Livia La Gatto e Renata Maciel levam paródias das redes sociais aos palcos

O que unha de gel, eleição, reforma do vizinho, boy lixo, monogamia e a dificuldade de encontrar um carro de aplicativo têm em comum? Fácil. Viraram temas de paródias de duas atrizes, a paulistana Livia La Gatto, de 38 anos, e Renata Maciel, paulista de Tanabi, de 37, que formam a Aquela Dupla e postam um sucesso atrás do outro nas redes sociais, com vídeos de fazer gargalhar.

Desde o estouro da pandemia de Covid-19, elas usam hits nacionais e internacionais para falar sobre temas tão diferentes quanto atuais. A partir do dia 17, o duo inicia uma temporada — a primeira em um teatro — do novo espetáculo, Paródias in Concert, sempre aos domingos às 20h, até 28 de abril, com ingressos a 100 reais, no Renaissance, nos Jardins. “A gente vai rir de si mesma no palco”, promete Livia.

Antes desse show, o duo fez algumas apresentações apenas em casas de humor ou de música, nunca em uma sala tão grande — a do Renaissance é para 440 pessoas — e com a estrutura cênica de agora.

Elas vão subir ao palco vestidas de pijama estampado de cogumelos, forma de homenagear Caetano Veloso, que durante a quarentena vivia aparecendo com roupa de dormir no Instagram e, após elogiar a dupla, ajudou a dar o rumo ascendente à carreira delas.

“A gente vai puxando assuntos, conversando com a plateia. Tem uma ou outra brincadeira e fazemos personagens, intercalando sempre texto com música”, adianta Renata, que é formada em piano clássico e toca sanfona.

No repertório, estão as paródias que elas já entoam nas redes sociais e algumas inéditas. “Vamos desde um sertanejo raiz até uma Daniela Mercury e Sandy & Junior”, segue Renata. “E terá Hallelujah, do Leonard Cohen, com ‘Ai, minha unha’”, completa Livia, que toca violão desde criancinha e também trabalha como roteirista.

“Queremos nos comunicar, então trabalhamos com o que está em voga mas também com a memória da nossa geração, dos millennials, a galera que está procurando algum sentido na vida”, ironiza.

Muitos dos temas chamam a atenção em particular de mulheres, que formam a maioria do público. A dupla calcula que 80% do público do show é feminino. “Muitos dos homens que vão, é a mulher que arrastou. Mas eles adoram”, acredita Livia. “Não ficamos levantando mil bandeiras, mas a gente passa por esse lugar de se colocar de forma irônica; as mulheres se sentem representadas e os homens conseguem ver a si mesmos e refletir”, afirma ela, que no ano passado denunciou as ameaças que recebeu de um influenciador após satirizar frases misóginas e machistas ditas por ele.

As atrizes moravam juntas no início da pandemia, quando começaram a fazer barulho na internet como Aquela Dupla. Na época, Renata não era muito das redes sociais (hoje tem mais de 48 000 seguidores), e Livia já fazia algum sucesso com a personagem Consuelo Dicaboa, que dá conselhos falidos com sotaque portenho, mas nada comparado aos números atuais (conta com 286 000 seguidores).

O primeiro vídeo que bombou das duas foi o que ironizava o depósito de 89 000 reais feito na conta da exprimeira-dama Michelle Bolsonaro.

Livia e Renata juram que nunca tiveram reclamações dos intérpretes ou compositores originais das canções por causa das letras. Pelo contrário, foram só elogios, e não só de Caetano. “Anitta já compartilhou!”, comemoram em uma sintonia difícil de ser vista por aí.

Elas contam que fazer música juntas parece até hoje uma tarefa simples, feita desde a época em que estavam na faculdade, há mais de uma década. “Começamos tocando em festa infantil, pegando busão pra tocar em festa de filho de rico”, lembra Livia. “A gente era uma dupla ‘humilhada’ e agora é uma dupla exaltada”, brinca.

Publicado em VEJA São Paulo de 8 de março de 2024, edição nº 2883.

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