Director’s Gourmet encerra as atividades
O bar frequentado pelo público gay resistia nos Jardins, onde a cena LGBT se mostra rarefeita
Muitos frequentadores do Director’s Gourmet devem ter acordo melancólicos no domingo (21). E não foi necessariamente por conta da ressaca — consta que a noite do sábado (20) foi especialmente agitada no bar. A razão é mais, digamos, profunda: aquela foi a última madrugada de funcionamento da casa.
Um dos raros bares gays do Jardins — e de São Paulo, cidade mais afeita às boates GLS –, o Director’s Gourmet (ou apenas Gourmet, para os íntimos) — encerrou as atividades depois de 27 anos de existência.
“Estamos cansadas, trabalhamos na noite desde 1990”, conta a sócia Adriana Siqueira, que comanda o estabelecimento com a irmã Daniela. Segundo a empresária, não foram motivos financeiros que pesaram na decisão. “O bar estava indo bem, tinha seus altos e baixos, claro, mas não foi isso, não”, diz. “Tentamos passar o ponto, mas tá complicado, ninguém tem dinheiro. Além disso, o bar é muito atrelado à imagem de nós duas.”
Os frequentadores, boa parte deles homens gays acima dos 40 anos, conheciam bem a dupla. Papear com as donas no balcão fazia parte do programa. Adriana e Daniela, inclusive, foram madrinhas de muitos casais que se formaram ali. “No bar, já tivemos amores, desamores, encontros, desencontros, casamentos, descasamentos…”, brinca Adriana.
O salão escurinho era decorado com pôsteres de filmes, além de uma cadeira de diretor de cinema e uma claquete penduradas no teto. Num canto do balcão, DJs tocavam hits de pop que embalavam os flertes e conversas. Canções de bandas dos anos 80, como The Cure e Smiths, davam charme à trilha.
Como o salão era apertadinho, o público era obrigado a bebericar de pé na calçada nos dias mais lotados — nada que incomodasse o pessoal.
Quando surgiu, em 1990, o bar não tinha vocação LGBT. “A noite aqui era dos mauricinhos e patricinhas”, disse a sócia Daniela Siqueira para a VEJA SÃO PAULO em reportagem publicada em 2003. “Aos poucos, os gays foram conquistando espaço e, hoje, os Jardins são deles.”
Na época da matéria, o Jardim Paulista era um bairro repleto de lugares frequentados pelo público gay, sobretudo na região da Rua da Consolação entre as alamedas Itu e Franca, justamente a área do Gourmet. Já funcionaram por lá bares como Allegro e Hertz e baladas como Ultralounge e Massivo, todos extintos. No fim da década passada, a cena LGBT já se mostrava rarefeita por lá.
Durante esta semana, no máximo até sexta (26), o espaço onde funcionou o bar (Alameda Franca, 1552) vai abrir entre 17h e 22h para um bazar, com venda do mobiliário e de itens de decoração, entre eles um pôster do filme Volver com autógrafo do cineasta Pedro Almodóvar.
Depois de entregar o imóvel, no fim do mês, as proprietárias pretendem tirar um período sabático.
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