Quando os halls dos prédios não tinham só reproduções clichês de Picasso
Houve um tempo em que os maiores incorporadores e arquitetos da cidade trabalhavam com artistas para valorizar seus empreendimentos
Houve um tempo em que o hall dos condomínios não era habitado apenas por reproduções clichês de Picasso e Miró. Alguns dos maiores incorporadores e arquitetos da cidade trabalhavam com artistas para valorizar seus empreendimentos, chamar a atenção de quem passava pela calçada ou dar status aos prédios, em uma época em que a elite só queria saber de morar em casa. Assim, Burle Marx fez azulejos em prédios projetados por Rino Levi; Clóvis Graciano, Bruno Giorgi e Bramante Buffoni assinaram murais e esculturas; e até Portinari e Di Cavalcanti tiveram participação em obras de Oscar Niemeyer como o Califórnia e o Montreal.
Dos que mais se esmeraram nesse namoro entre arte e arquitetura, está o arquiteto e incorporador João Kon, que convidou diversos artistas, de Alfredo Volpi a Arcangelo Ianelli, para colaborar em seus projetos. Ele manteve o investimento até os anos 1970, quando essa bela moda já havia passado. Um dos parceiros de Kon foi o judeu alemão Gershon Knispel, que fez este painel no Edifício Condor (1960), no bairro de Santa Cecília. Knispel ainda desenhou na fachada da antiga sede da TV Tupi (projetada por Gregorio Zolko), que também abrigou a MTV, na Rua Alfonso Bovero, no Sumaré.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 29 de maio de 2019, edição nº 2636.