Edifício Azul e Branco tem manual contra reformas sem noção
Proibição inclui que terraços não sejam fechados por vidros. Há também regras sobre como instalar o ar condicionado sem arruinar a fachada
Não há projeto arquitetônico sofisticado que resista a síndicos, moradores e reformas desastradas. São Paulo está cheia de bons projetos mutilados. Por isso o Edifício Azul e Branco (1958), na Oscar Freire, é tão inspirador.
Nos últimos dez anos, a síndica Elzbieta Klabinska instituiu um manual que estipula desde como esquadrias devem ser restauradas até como fazer a instalação de aparelhos de ar condicionado, sem arruinar as fachadas. Terraços não podem ser fechados por vidros (é claro). Pisos de granilite que haviam sido cobertos por materiais baratos foram recuperados, e lustres coloniais de madeira, que nada tinham a ver com a arquitetura original, substituídos.
Pouco antes de morrer, o artista plástico Hércules Barsotti, que morava ali, doou várias gravuras para as áreas comuns. Até a indefectível guarita é revestida de pastilhas nas cores que batizam o prédio. Desse jeito, dá gosto admirar uma das melhores obras do engenheiroincorporador judeu polonês Arão Sahm com o arquiteto italiano Guido Gregorini. Como a síndica Elzbieta, eles também eram imigrantes que trataram nossa paisagem com capricho.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 15 de maio de 2019, edição nº 2634.