Redator-chefe de Veja São Paulo, é autor do livro "São Paulo nas Alturas", sobre a Pauliceia dos anos 50. Ex-correspondente em Pequim, Nova York, Washington e Buenos Aires, escreve sobre urbanismo e arquitetura
Os aplausos noturnos nas janelas e sacadas em Madri, Milão e Nova York foram um belo reconhecimento aos profissionais de saúde na linha de frente da pandemia. Em São Paulo, tais homenagens foram escassas e já parecem passado distante. Mas podemos consertar tal ingratidão.
O salário médio de enfermeiros e técnicos de enfermagem na capital varia entre 2 000 e 3 500 reais. Desde o início da pandemia, não são poucos os que precisaram se isolar dos familiares, ou que penam em longas jornadas de casa para o trabalho. Com esses rendimentos modestos, vários moram em conjuntos habitacionais ou favelas nas bordas da cidade. A saúde e a produtividade deles saem prejudicadas, claro.
No Reino Unido, desde o início dos anos 2000, uma política tenta permitir que esses trabalhadores essenciais possam morar em áreas centrais, onde o metro quadrado é caro, para valorizar e proteger o trabalhador público. Ainda no governo do premiê Tony Blair, o programa Starter Home subsidiava o primeiro imóvel de enfermeiros, policiais e professores públicos.
A prefeitura de Londres criou o programa First Steps (primeiros passos), que subsidia a compra de imóveis, a longo prazo. Campanhas similares estão surgindo no interior da Inglaterra, em Toronto, no Canadá, e nos Estados Unidos, chamadas de “Casa para os heróis”.
São Paulo bem que poderia abraçar a causa. Não faltam terrenos públicos, sem necessidade dos gastos de desapropriação, que poderiam abrigar moradia para profissionais de saúde que não tenham nenhum imóvel próprio e com renda abaixo de cinco salários mínimos. O Metrô é cheio de terrenos desaproveitados depois que as obras de seus túneis terminam.
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1/6 Terreno da Assembleia: “casas para os heróis” em local nobre (reprodução/Google/Veja SP)
2/6 Vagas de estacionamento por todos os lados da Assembleia e calçadas isoladas: mau exemplo, que destoa do Plano Diretor (Raul Juste Lores/Veja SP)
3/6 Vagas de estacionamento por todos os lados da Assembleia e calçadas isoladas: mau exemplo, que destoa do Plano Diretor (Raul Juste Lores/Veja SP)
4/6 Terreno da Assembleia: “casas para os heróis” em local nobre (Raul Juste Lores/Veja SP)
5/6(Raul Juste Lores/Veja SP)
6/6 Vagas de estacionamento por todos os lados da Assembleia e calçadas isoladas: mau exemplo, que destoa do Plano Diretor (Raul Juste Lores/Veja SP)
A prefeitura recebe milhares de metros quadrados de contrapartida a cada novo loteamento grande que surge na cidade. Sem falar nos espaços ociosos que nossa vista já nem mais registra. O vasto estacionamento da Assembleia Legislativa lembra os dos hipermercados dos anos 1980, que só se explicavam pelas “compras do mês”, o estoque anti-inflação galopante. O prédio, isolado, lembra Brasília — tanto o Congresso argentino quanto o espanhol são cercados por edifícios de usos mistos, e os parlamentares passam bem.
Se o eixo Bela Vista-Clínicas-Vila Mariana-Moema concentra vários hospitais paulistanos, seria justo ter uma oferta de imóveis a preços acessíveis para profissionais de saúde, a passos do Ibirapuera. Quem sabe aluguel social? Uma região erma e insegura à noite que ganharia vida, movimento. Poderia até ser feito um concurso de arquitetura, tendo o mesmo gabarito da Assembleia, abrigando facilmente 400 apartamentos de 60 metros quadrados, com comércio e serviços no térreo. Certamente, seria um condomínio mais bonito que muitas torres “de luxo” vizinhas, e daria morada a centenas de heróis.
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Em 10 000 metros quadrados ali à toa, dá para mostrar que algo vai mudar no pós-pandemia.
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