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São Paulo nas Alturas

Por Raul Juste Lores Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Redator-chefe de Veja São Paulo, é autor do livro "São Paulo nas Alturas", sobre a Pauliceia dos anos 50. Ex-correspondente em Pequim, Nova York, Washington e Buenos Aires, escreve sobre urbanismo e arquitetura
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Antes convidativo, complexo na Paulista parece a entrada de um presídio

O Cetenco Plaza, coitado, está na contramão de espaços corporativos mais inovadores

Por Raul Juste Lores
Atualizado em 3 Maio 2019, 16h15 - Publicado em 3 Maio 2019, 06h00
Conjunto projetado pelos arquitetos Ricardo Sievers e Rubens Carneiro nos anos 1970: sofisticação original mutilada (Raul Juste Lores/Veja SP)
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Parece a entrada de um presídio de segurança máxima, mas é apenas o que restou do que já foi um dos complexos mais convidativos da Avenida Paulista, o Cetenco Plaza. Em seus jardins, abertos por mais de trinta anos, com um chafariz e o restaurante Spot no cenário, paulistanos sentavam-se, namoravam nos banquinhos de concreto, passeavam com seus cães.

Além do alambrado preto, vidros foram colocados com desleixo em cima do jardim. Ironicamente, trata-se de um dos metros quadrados mais protegidos da cidade — o condomínio abriga não só o Tribunal Regional Federal, dono de vários andares ali, mas também a Caixa Econômica, e ainda tem a sede paulistana do Banco Central como vizinho. Não existe nenhum registro recente de crime naquela praça. Nem dormiam ali as dezenas de moradores de rua comuns nas calçadas dos Jardins e de Higienópolis.

Tribunal Regional Federal
Cada um por si urbanístico: a praça fechada da sede do Tribunal Regional Federal (Raul Juste Lores/Veja SP)

Imagine como a Paulista pioraria se mais prédios seguissem o mau exemplo. Felizmente, porém, o Cetenco é exceção. No ensolarado sábado em que tirei as fotos acima, outras instituições na Paulista mostravam como se contribui para uma cidade melhor. O Instituto Moreira Salles, sem muro, estava cheio de visitantes em seu térreo; o vão do Masp era disputado pelas filas para ver a mostra de Tarsila. O Conjunto Nacional, sem muros, tinha seus corredores e calçadas cheios. Na esquina com a Rua Padre João Manuel, os parklets abrigavam gente sentada, tomando café ou sorvete. Do Centro Cultural Fiesp à escadaria da Gazeta, exemplos abundam de como a responsabilidade de viver em sociedade também leva em conta o que fazemos pelo ambiente urbano. Algo a que o tal condomínio agora cercado decidiu dar as costas.

O Cetenco, coitado, está na contramão de complexos corporativos mais inovadores: na Faria Lima, o endereço do BTG e do Google colocou pufes no gramado térreo. No Edifício Santos Augusta, na esquina das ruas que o batizam, há até bancos de madeira para qualquer pedestre usar (nem muro nem grade ali). Empresas modernas, do Spotify ao Nubank, escolhem sedes que deixem seus jovens colaboradores desfrutar o ar livre.

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Arquitetos Ricardo Sievers e Rubens Carneiro
O jardim desfeito e envidraçado (Raul Juste Lores/Veja SP)

Como os jovens de hoje não querem ficar enfurnados em uma cidadela, talvez algumas empresas mais antenadas deixem o Cetenco. Talvez o Tribunal Regional Federal perceba como é ruim para a sua imagem isolar-se em plena Paulista. Se a vacância aumentar, talvez doa no bolso de gente tão insensível à vida na cidade.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 8 de maio de 2019, edição nº 2633.

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