Bobby Gillespie, do Primal Scream: “Ainda sinto que tenho muito a dizer”
O cantor e compositor escocês falou à Vejinha sobre a influência da banda em artistas como Dua Lipa, Lorde e Kevin Parker, do Tame Impala
O Primal Scream se apresenta nesta terça-feira (11) em São Paulo, na Audio, e a Vejinha conversou com o vocalista Bobby Gillespie sobre a trajetória da banda.
Um dos principais nomes do rock britânico dos anos 90, o grupo retorna ao país sete anos após a sua última vinda, mais uma vez trazido pela Balaclava Records, agora em parceria com a produtora Music On Events.
Formado em 1984 em Glasgow, na Escócia, a banda é conhecida por sua mistura de rock, psicodelia, dance music, dub e punk, com hits como Movin’ on Up, Loaded, Rocks e Country Girl, de discos clássicos como Screamdelica (1991) e Give Out But Don’t Give Up (1994).
Você já lançou uma música com uma banda brasileira, o CSS (Cansei de Ser Sexy), Hits Me Like a Rock, de 2011. Como foi a experiência?
Quando viemos ao Brasil, no começo dos anos 2000 (em 2004, no Tim Festival), conhecemos a banda CSS. Encontramos as meninas tocando em um festival onde a PJ Harvey estava no mesmo palco que a gente, Brian Wilson e os Pet Shop Boys também. Conhecemos a Lovefoxxx, as meninas e o cara da banda, saímos depois, fomos para o hotel e fizemos uma festinha. Pessoas maravilhosas. Acho que em 2007 a Lovefoxxx ainda foi ao nosso estúdio em Londres e cantou em uma música chamada I Love to Hurt (You Love to Be Hurt).
O que podemos esperar do repertório do show em São Paulo?
Vamos tocar umas oito ou nove músicas do nosso mais novo álbum, Come Ahead, do qual temos muito orgulho. Vamos tocar também músicas do Screamadelica, como Movin’ on Up e Damaged, músicas como Rocks, Jailbird e também faixas do álbum Vanishing Point, como Medication. É uma boa mistura de novidades e antiguidades da banda. Também terão algumas do XTRMNTR. Será um set muito poderoso.
Como você enxerga o legado do Primal Scream na música de hoje? Especialmente em relação ao Screamadelica, a mistura de rock e dance music daquele disco.
Ouvimos palavras muito gentis de artistas como Dua Lipa… Sei que o Kevin Parker, do Tame Impala, é um grande fã do Primal Scream, especialmente de Screamadelica. A Dua Lipa disse que ouviu Screamadelica enquanto fazia seu último álbum. A Lorde também é fã do Primal Scream. Muitos artistas contemporâneos enormes, superpopulares e bem-sucedidos são fãs. Isso é muito legal. Eu sei que o Josh Homme, do Queens of the Stone Age, é um grande fã, assim como o Mark Lanegan (da banda Screaming Trees). O Mark Lanegan e o Greg Dulli, aliás, gravaram uma versão da nossa música Deep Hit Of Morning Sun para o projeto deles, The Gutter Twins, e é uma versão fantástica. Ficamos muito honrados com isso. Acho que fomos influentes à nossa maneira, discreta. Pessoas como Robert Plant e Jimmy Page já me disseram que curtem o som que o Primal fez ao longo dos anos. Paul Weller também é um grande fã. Noel e Liam Gallagher, idem. Joe Strummer, Mick Jones, John Lydon, Steve Jones… E quanto à música contemporânea, há muitos artistas jovens. Fico feliz em saber que artistas e músicos jovens são fãs.
Come Ahead, seu álbum mais recente, tem muito de funk e soul. Ele começa com um coro gospel. É um novo caminho musical para o Primal Scream?
Estamos muito, muito orgulhosos deste álbum. Usar ritmos de funk e disco para contar histórias, cantar e tocar foi uma ideia genial, e tenho que dar crédito ao nosso produtor David Holmes por isso. Eu tinha muitas músicas que eram meio folk-rock, e ele enviou bases com batidas bem suingadas, então eu modifiquei as músicas para se encaixarem nesses ritmos — e assim nasceu Come Ahead. Eu consigo expressar muita coisa nesse disco. Ainda sinto que tenho muito a dizer sobre minha vida, política, cultura. Este é um disco que não poderíamos ter feito há dez ou quinze anos. Toda a experiência de vida que acumulei nas últimas décadas, as minhas leituras. Eu leio muito — teoria crítica, romances, história, poesia. Autores como o Franco “Bifo” Berardi, o teórico e poeta italiano de esquerda radical. Para mim, ele é um gênio. As reflexões dele sobre cultura popular e política contemporânea são incríveis. Sou uma pessoa curiosa, quero sempre ser um artista melhor, um compositor melhor, um cantor melhor, um performer melhor. Estou sempre trabalhando, absorvendo novas ideias, imagens, sons, mantendo meus olhos e ouvidos abertos. Também fico animado em ouvir música nova, ver novos caminhos sendo criados. Quero continuar aprendendo e evoluindo. Aí está o coração de Come Ahead.
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