Guiado pelos sonhos: a história do cantor e compositor Jota.pê
Artista de Osasco celebra nova fase da carreira com segundo disco de estúdio, contrato com a Som Livre e turnês internacionais

“Conheci o trabalho do Jota na pandemia. Além de uma sensibilidade surreal, a musicalidade dele passa uma alegria que, naquela época, eu estava precisando. É o meu quinto show”, contou o fã Jean. “É o meu primeiro show dele. Conheci na pandemia, assistindo aos covers no Instagram. Foi bonito demais, é uma sonzeira, muito suingue”, disse Jaqueline, outra seguidora.
Foram dois entre tantos relatos ouvidos ao fim do show do cantor e compositor Jota.pê, 30, na Vila Itororó, em uma sexta-feira de setembro. No ano passado, foi o mesmo centro cultural em que o músico realizou o sonho de tocar para mais de 1 000 pessoas.
Nos últimos tempos, isso vem acontecendo bastante para João Paulo Gomes da Silva, o Jota: realizar sonhos. Não poderia ser diferente para alguém cujo primeiro disco se chama Crônicas de um Sonhador (2015). Um verso da música que nomeia o álbum resume bem o seu desejo: “Não quero mais viver sonhando / Vou sonhar vivendo, para viver cantando”.
Oito anos depois dessa canção vir ao mundo, o sonho segue mais vivo do que nunca, com a primeira metade do seu segundo álbum, Se o Meu Peito Fosse o Mundo (2023), lançada nesta sexta-feira (27).
Nessa nova fase, ele está muito bem acompanhado de uma equipe de craques como os produtores Felipe Vassão e Rodrigo Lemos, o diretor artístico Marcus Preto, o baterista Kabé Pinheiro e o baixista Marcelo Mariano, além da cantora Xênia França, que participa do disco.

Paulista de Osasco, Jota.pê morou em Salvador, Rio de Janeiro e Fortaleza durante a infância, antes de retornar à cidade natal. Na pré-adolescência, além do violão, o artista ganhou outro parceiro que não largou mais: o chapéu, que virou sua marca inconfundível.
“O boné virou moda na escola, e comecei a usar. Mas foi um período complexo, porque a polícia começou a me parar na rua, e os professores enchiam muito o saco na sala de aula. Então a minha mãe comprou um chapéu, e pediu para eu experimentar. Nunca mais parei de usar, desde a 7ª série”, relembra.
Mais tarde, de tanto ouvir que a carreira na música não daria dinheiro, quase seguiu por outros caminhos. “Eu tentei muito não ser músico. Fiz ensino médio técnico de TI, trabalhei na IBM, dei aula de pacote Adobe e fiz duas faculdades pela metade, design digital e publicidade”, conta.
Entre demissões e noites tocando em barzinhos da cidade, conseguiu gravar o seu disco de estreia. “Eu não estava feliz. Com 22 anos, acordava esperando a sexta-feira chegar. Então tentei fazer a música dar certo, porque não sei fazer outra coisa da vida.”
Após participar do The Voice, da TV Globo, em 2017, e fazer shows cada vez maiores, seu sucesso mudou de patamar durante a pandemia. “No isolamento, comecei a gravar muitos vídeos autorais e lives que começaram a viralizar — eu saí de 15 000 para 200 000 seguidores”, conta.
Os frutos desse período foram colhidos nos últimos dois anos, com as suas primeiras turnês no exterior, um contrato com a gravadora Som Livre e apresentações esgotadas por todo o Brasil, tanto solo quanto com a cantora Bruna Black, com o duo Àvuà — a dupla virou até mural na Avenida Rebouças, no projeto Giganto, da artista Raquel Brust.

Neste sábado (28), Jota se apresenta na Casa de Cultura da Vila Formosa, gratuitamente, e, em novembro, estará no palco da Casa Natura Musical, com o Àvuà, no dia 4, e do Bona Casa de Música, solo, no dia 22.
Mesmo com a agenda lotada, em seu último show em São Paulo, entre uma das músicas, disse para a plateia: “Eu ainda não me acostumei. Tinha um tempo em que o meu único objetivo era encontrar um boteco para tocar e ter pelo menos uma pessoa escutando”.
Depois, resumiu o seu objetivo como artista em uma frase. “Espero que vocês saiam hoje um pouco melhores do que chegaram”, sonha.
Publicado em VEJA São Paulo de 27 de outubro de 2023, edição nº 2865