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Com o peso de uma grife

Louis Vuitton, Chanel, Gucci, Versace, Dolce & Gabbana. Cada vez mais, as marcas consagradas no prêt-a-porter e nos acessórios de couro emprestam criatividade a joias que desafiam os ourives

Por Silvana Holzmeister
Atualizado em 5 dez 2016, 16h06 - Publicado em 20 abr 2013, 01h00

Daqui a dois meses, a Chanel abrirá mais um endereço — até aí, nada de novo para uma grife que soma 310 lojas. Esse, porém, ficará longe das vistas do público. No número 18 da Praça Vendôme, a marca do duplo C concentrará ourives próprios a serviço de uma clientela cada vez mais ávida por joias logotipadas. Com 99 peças — incluindo um colar de diamantes de mais de 2,5 milhões de euros —, a novíssima Jardin de Camélias é a derradeira coleção produzida nos ateliês espalhados por Paris e utilizados há duas décadas para as peças de alta joalheria. Ainda que a portas fechadas, a Chanel segue, um ano depois, a Louis Vuitton. Depois da reforma comandada por Peter Marino, a marca que fez história com as bolsas, para mais tarde causar sensação com as roupas, encravou seu logo numa esquina de quilate: aquela da Vendôme com a Rua de la Paix. Para as vizinhas Boucheron, Van Cleef & Arpels, Patek Philippe e Breguet, entre outros fabricantes clássicos, a LV agigantada do número 23 é uma estranha (e dominante) no ninho. “Temos orgulho de mostrar nossas joias e relógios no berço da alta joalheria”, diz Hamdi Chatti, vice-presidente dessa divisão. É a primeira Vuitton exclusiva para peças do gênero. A grife começou no segmento em 2001, quando Marc Jacobs propôs braceletes com pingentes de ouro. Há três anos, o designer Lorenz Bäumer, dono também de uma loja situada na Vendôme com uma coleção autoral, ocupa-se das peças únicas (ou em tiragem limitada). Na vitrine do número 23, uma das peças que reluzem é o Dentelle d’Hiver (34 centímetros), de diamantes e safiras, da coleção Voyage dans le Temps, que sai por 700 000 euros, o equivalente ao preço de 1 094 bolsas Neverfull, o modelo que mais faz sucesso entre as clientes.

O movimento da grife francesa ilustra uma revolução que se acentuou, e no ano passado explodiu, no métier das pedras e dos metais preciosos. Cada vez mais, as marcas consagradas no prêt-à-porter e nos acessórios de couro se lançam na ourivesaria, criando peças que fogem do repertório tradicional e desafiam os artesãos. Em 2012, a Versace e a Dolce & Gabbana se juntaram a um universo explorado da Hermès à Bottega Veneta, passando pela Ralph Lauren. “As joias são pensadas para dialogar com as roupas”, diz Donatela Versace, que fez coincidir a estreia da alta joalheria com o retorno da grife à passarela de alta-costura, em julho. Sem contar Gucci e Dior. “Incorporo ao meu trabalho desde as superstições de Christian Dior até a palha trançada das cadeiras dos desfiles”, diz a diretora criativa Victoire de Castellane.

Quando ingressou na maison, em 1998, sua primeira missão foi investigar os arquivos do costureiro. Apropriou-se das referências para desenhar peças que passariam, num olhar de relance, por bijus. Foi um enorme grau de licença poética da designer, que, menina, cobiçava os anéis de brinde das máquinas de doce. Hoje ela tem uma coleção com seu nome, a Le Coffret du Victoire. Por aqui, contam-se nos dedos as joias de grife. A Maria Bonita abriu o cofre, em 2008, ao convidar a designer Bettina Terepins para elaborar uma coleção. Hoje, criadores se revezam na interpretação das roupas: Adriana Delmaestro, Mercedes West, Brenda Vidal e Duda Tonarque. Outra carioca que se aventura nesse garimpo é a Animale. Com oficina interna, dedica 30% das peças ao tema da estação. No inverno 2013, o destaque é o chifre, em referência ao tema viking do prêt-à-porter, disponível em cinquenta dos endereços da marca (em média, 5 000 reais). O próximo passo para a estilista da loja, formada em ourivesaria, é abrir um endereço exclusivo para as criações preciosas. Nesse caso, sairá a Animale e entrará, na fachada, Claudia Jatahy.

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