Passeios reúnem donos de lamborghinis, porsches e outros carrões
Em encontros no melhor estilo <em>Velozes e Furiosos</em>, membros da confraria discutem a grande questão existencial: o seu é mais bonito e caro que o meu?
Por volta das 11 horas do último sábado de junho, um congestionamento só comum nas ruas de Beverly Hills formou-se à porta do hotel cinco-estrelas Royal Palm Plaza, em Campinas. Os motoristas aguardavam o sinal verde dos seguranças, enquanto uma dúzia de curiosos apontavam máquinas fotográficas para os veículos que ali chegavam. Eram cerca de 200, com direito a trinta Ferraris, sessenta Porsches, além de Lamborghinis e outros mitos sobre quatro rodas.
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Coisa de 100 milhões de reais, no total, a frota havia sido reunida para o Passeio e Encontro entre Amigos, evento trimestral do grupo paulistano Motorgrid. Trata-se de uma confraria surgida em 2012, quando Eduardo Schkair Junior, de 26 anos, até então dono de uma Ferrari, decidiu juntar mais quinze veículos da marca rumo ao Guarujá, em um frugal bate e volta para comer empadinhas na Marina Astúrias. “Nós nos sentimos mais seguros quando viajamos juntos”, justifica. A iniciativa se oficializou e, de lá para cá, o número de interessados em “passear” só aumentou. Hoje, a infraestrutura inclui nove voluntários, todos membros da entidade, para auxiliar na organização.
Quem não possui um carrão sensacional pode tirar o Fusquinha da chuva, evidentemente. Para ser aceito, é preciso ainda passar pela peneira dos associados. “Eu checo quem é e quais são os amigos em comum no Facebook”, avisa Schkair. Pré-aprovado, o nome é divulgado por mensagem no grupo de WhatsApp para a apreciação dos outros participantes. “Se dois tiverem algo contra a pessoa, ela não entra.”
Os sobreviventes desse vestibular são contemplados com um singelo, mas cobiçado, símbolo de status: a pulseirinha de borracha com o logo Motorgrid. Tal quais os códigos maçônicos, esse é um meio para que os iguais se notem em qualquer lugar e sejam reconhecidos. A confraria tem atualmente cerca de 600 sócios. “Já me abordaram na balada pedindo para fazer parte”, diz o fundador. Não há, afinal, muitos outros encontros de automóveis de luxo da capital — são mais comuns os casos de petit comité, como o café da manhã semanal promovido pela Porsche, na Vila Olímpia, para felizes proprietários de seus produtos.
O Motorgrid prima pelo clima bem família, com predominância de jovens solteiros do sexo masculino e casais com filhos. Engraçadinhos são suspensos sob a ameaça de expulsão (até hoje, só um foi excluído em definitivo, acusado de provocar colegas na rodovia). No rolezinho acompanhado por VEJA SÃO PAULO em Campinas, nada de bebida que pisca. Comes e bebes só no almoço servido no hotel logo após o encontro, para o qual ficou metade dos presentes. Antes, tudo esteve restrito entre o estacionamento e um lounge. A graça era ver o bem alheio, mostrar o próprio, tirar fotos, ao som de aceleradas ensurdecedoras, de fazer vibrar o chão. Ou seja, é algo para quem gosta de passar horas falando do carro.
Com seu Camaro 2010 customizado (câmbio manual no lugar do automático de série), o advogado Breno Pinori levou o pai, Jair, que, por sua vez, compareceu a bordo de seu xodó, um Maverick 77. “Acho que foi a sensação, porque postaram dois vídeos na página do grupo”, conta ele, dono também de um Chrysler e um Audi. Entre os modelos mais fotografados por lá estavam o Tesla Model S (em torno de 600 000 reais), o McLaren MP4-12C (2 milhões), um BMW i8 (cerca de 700 000) e uma Ferrari Challenge Stradale (500 000 reais).
Os encontros cada vez maiores têm atraído também patrocinadores, como lojas de carros, marca de relógios e de pneus. As empresas ajudam a cobrir os custos de até 100 000 reais por evento (em uma das edições, a turma bloqueou parte do estacionamento do Shopping JK Iguatemi). Schkair Junior transformou-se em uma espécie de it boy dos bólidos. Formado em jornalismo, hoje não exerce a profissão. Vive com a família e dedica-se a organizar o Motorgrid, que lhe dá várias alegrias.
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Viajou ao Salão de Genebra a convite da Audi e recebe das montadoras brinquedões para testar ao longo de meses — dirige atualmente um CLS 63 Brabus, da Mercedes-Benz, o único no país, capaz de ir de 0 a 100 quilômetros por hora em 3,5 segundos (preço mínimo: 870 000 reais). “Sei que ainda transformarei isso num negócio, mas hoje a ideia é me divertir”, afirma.