Símbolo de moda de SP, Bom Retiro realiza censo
De acordo com levantamento encomendado pela ABIV, região conta com 780 unidades fabris, 19,4 mil trabalhadores e movimenta R$ 5,3 bilhões por ano
O Censo do Bom Retiro – Indústria e Varejo 2025, divulgado hoje (13), mapeou o perfil produtivo, comercial e digital da região e identificou a estrutura das empresas, seus canais de venda e o papel do bairro na cadeia têxtil nacional.
De acordo com o levantamento inédito, a região conta com 780 unidades fabris e 19,4 mil trabalhadores. A produção de vestuário chega a 50,5 milhões de peças, por ano, o que movimenta R$ 5,3 bilhões. Encomendado ABIV, o estudo foi executado pelo IEMI – Inteligência de Mercado.
A região reúne 804 pontos de venda, em sua maioria pequenas e médias confecções (46,1%), distribuídas ao longo de cerca de 15 ruas comerciais na região central de São Paulo, como José Paulino, Aimorés, Ribeiro de Lima, Professor Cesare Lombroso, Carmo Cintra, Italianos e Silva Pinto.
Em termos proporcionais, os números do Bom Retiro representam 16,0% das indústrias do setor no Estado, 23,1% da mão de obra da cidade, 13,7% da produção em peças na capital e 22,1% do valor de produção da cidade, evidenciando a região como uma das maiores densidades produtivas do setor no país.
O Censo aponta um modelo produtivo integrado: 97% das empresas produzem as próprias peças e 87,1% mantêm a unidade fabril no próprio bairro.
Na dinâmica comercial, 93,5% das lojas vendem para lojistas especializados (departamentos de moda, multimarcas, lojas de bairro, boutiques e franquias); 61,8% atendem sacoleiras e revendedores; e 38,7% comercializam para o consumidor final.
O polo ainda abastece outros formatos: 4,0% fornecem para lojas não especializadas, 3,6% para comércio atacadista, 1,9% destinam parte da produção à exportação e 0,9% atendem o segmento institucional (como hotéis, pousadas, clínicas e empresas).
Localizado na região central de São Paulo, o Bom Retiro vive um novo momento. Após um ano à frente da Associação Brasileira da Indústria do Vestuário (ABIV), entidade que representa o polo e empresas no segmento do vestuário de diferentes estados, Cinthia Kim avança em um projeto de reposicionamento da região, alinhando a percepção pública do bairro à sua relevância econômica.
A divulgação do Censo, por exemplo, ocorre em paralelo à implementação de um sistema de vigilância integrado, no qual estão previstas 80 câmeras de monitoramento 24h instaladas nas principais ruas comerciais, conectadas diretamente à central da Polícia Militar.
O projeto, que recebeu um investimento na implantação na ordem de R$ 500 mil, já conta com 66 câmeras em funcionamento (das 80 previstas), com conclusão prevista ainda este ano.
Outra frente é o fortalecimento da marca Universo da Moda Bom Retiro (UMBR), que tem articulado parcerias com comerciantes de outros polos de moda do país, com foco nos revendedores regionais. Já está em andamento um projeto-piloto no qual mostruários de confecções circulam entre lojistas de diferentes estados, apresentando o polo como um hub nacional de abastecimento e referência para o atacado.
“O bairro é subavaliado em termos de percepção pública. Ainda há quem enxergue o Bom Retiro apenas como comércio popular”, diz Cinthia. “Na prática, estamos falando de um dos polos de moda mais importantes do país, que gera emprego, turismo e renda. É também a região que abastece o varejo nacional, visto o fluxo de revendedores de diferentes regiões que chegam em caravanas. Tendências das coleções de desfiles europeus e norte-americanos chegam de forma antecipada às vitrines do bairro. Vem gente do Brasil inteiro comprar aqui”, destaca a presidente da ABIV.
De acordo com Cinthia, uma nova geração de empresários, que cresceu dentro das confecções, hoje dá continuidade aos negócios fundados há mais de 30 ou 40 anos por imigrantes. Essa nova geração vem demonstrando um olhar contemporâneo, inovador e voltado para negócios.
Cinthia é parte dessa nova geração. Aos 43 anos, é a primeira mulher a ocupar o cargo. Formada pela ECA/USP, faz parte da primeira geração de coreanos nascidos no Brasil.
Depois de dez anos trabalhando em agências de publicidade e propaganda, assumiu a confecção da família no Bom Retiro. “Na época, me incomodou o volume de resíduos têxteis que eram descartados. Fui atrás de pesquisadores, com uma ideia de reciclagem, mas percebi que sozinha não conseguiria nada”, diz.
Quando soube da ABIV, Cinthia propôs que ela abraçasse o projeto e o estendesse a outras confecções do bairro – o que deu origem a um programa que nós temos [Bom Retiro Recicla], que recolhe 10 toneladas de resíduos têxteis por mês na região.
“Acabei participando do conselho e, com o tempo, da presidência — isso foi bem significativo porque a liderança das confecções, na prática, é majoritariamente feminina”, afirma.
Mobilização
Diante do risco de perda de protagonismo do polo — sobretudo pela digitalização do varejo — um grupo de jovens comerciantes se mobilizou para criar uma representação capaz de dialogar com o poder público e defender condições concorrência mais favorável para o setor.
Foi nesse contexto que, em 2019, surgiu a ABIV que, embora sediada em São Paulo, nasceu com associados distribuídos em demais estados. Atualmente, tem capilaridade em São Paulo (39%), seguido por Minas Gerais, Paraná, Ceará, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Bahia.
“Era um grupo de pessoas que queria fazer a coisa acontecer, mas não tinha caixa para executar. Meus antecessores conseguiram construir uma base financeira para a gente poder trabalhar agora”, afirma Cinthia.
A história
A vocação do Bom Retiro para a moda se consolidou a partir de diferentes ondas migratórias. No final do século XIX e início do XX, italianos e portugueses introduziram as primeiras atividades industriais e comerciais.
Na década de 1920, judeus do Leste Europeu estruturaram o comércio de roupas no bairro. Entre as décadas de 1960 e 1980, a imigração coreana profissionalizou o atacado de moda feminina. A partir dos anos 1980, trabalhadores bolivianos passaram da costura ao empreendedorismo.
Essa formação fez do Bom Retiro um polo multicultural e cosmopolita. O bairro passou a integrar também o circuito cultural paulistano, reunindo instituições religiosas de várias matrizes, restaurantes de diferentes tradições, além de instituições como a Pinacoteca de São Paulo, o Museu da Língua Portuguesa e a Oficina Cultural Oswald de Andrade.
Em 2019, foi eleito pela revista britânica Time Out como o 25º bairro mais “cool” do mundo, e em 2021, a Rua Três Rios figurou entre as dez mais descoladas do planeta. O acesso é favorecido pela proximidade com as estações Luz e Júlio Prestes (trem) e Luz e Tiradentes (metrô), o que favorece a chegada de compradores de várias regiões do país.
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