Mostra leva tela rara de Picasso à casa projetada por Niemeyer em SP
'Mulher Nua Sentada' (1901) é um dos destaques da 'Aberto 01'. Nunca exibida no Brasil, obra chegou a ser confiscada pelos nazistas nos anos 30
Um quadro de Picasso nunca antes visto no Brasil exposto na única casa projetada por Oscar Niemeyer em São Paulo. Essa junção impressionante é um dos destaques da exposição Aberto 01, cuja primeira edição acontece na capital até dezembro deste ano. O evento, que pretende ser anual e passar por países diferentes, é um projeto de Filipe Assis, paulista que trabalha como art advisor — profissional que presta consultoria a colecionadores — em Londres desde 2019. “Eu nem sabia que tinha uma casa projetada por Niemeyer em São Paulo. Quando a vi, tive certeza que seria nela. Da decisão do local até a escolha das obras e a montagem da exposição foram somente 45 dias”, comenta.
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Participaram desse processo intenso Kiki Mazzucchelli, diretora artística da Galeria Luisa Strina, e a designer de móveis Claudia Moreira Salles, que atuaram na curadoria. Como mote da mostra, o trio escolheu obras que conversassem de alguma maneira com a estrutura da casa, avaliada em 15 milhões de reais. O imóvel, localizado em Alto de Pinheiros, foi projetado pelo arquiteto (1907-2012) nos anos 60 e dado de presente em 1974 para o engenheiro Milton José Mitidieri, com quem trabalhou no desenvolvimento de Brasília. Tem um belo jardim, cujo projeto inicial é do paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994), vaga para sete carros, além de cinco amplos quartos.
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É na suíte master que fica Mulher Nua Sentada (1901), tela de Pablo Picasso (1881-1973) do início de sua carreira. “Foi pintada em papelão, porque ele ainda não tinha dinheiro para comprar telas”, explica Filipe. Até chegar à capital e pousar em um dos cavaletes feitos por Claudia especificamente para a mostra, a pintura passou pelas mãos de vários colecionadores e chegou a ser confiscada pelos nazistas na década de 30. Ela está exposta ao lado de vários nus, todos eles estreantes no Brasil, de artistas como Gustav Klimt, Marc Chagall e Alberto Giacometti.
Engana-se quem pensa que a tela de Picasso é a mais cara do conjunto. Leva o título Relevo Espacial (1959), do brasileiro Hélio Oiticica, que pende do teto acima da copa. “Com o valor daria para comprar a própria casa”, brinca Filipe. Ainda podem ser vistos trabalhos de Tunga, Maria Martins, Cildo Meireles e artistas jovens, surgidos na cena atual.
Casa Niemeyer. Rua Silvia Celeste de Campos, 607, Alto de Pinheiros. Qui. a dom., 11h/16h. Grátis. Até 4/12. Necessário agendar. Visitação: 60min. aberto.art.
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Publicado em VEJA São Paulo de 16 de novembro de 2022, edição nº 2815