Antônio Nóbrega celebra a vida e a carreira em novo espetáculo
O pernambucano, fundador do Instituto Brincante, completou 70 anos de idade no ano passado; ele se apresentará no Sesc Belenzinho com a mulher e os filhos
O ano de 2022 marcou quatro efemérides para o músico e multiartista pernambucano Antônio Nóbrega. Ele completou 70 anos de idade, cinquenta de carreira, quarenta de casamento e trinta do Instituto Brincante, que fundou com a esposa, Rosane Almeida, na Vila Madalena.
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A avalanche de razões para celebrar resultou no espetáculo Setenta + 1, em cartaz no Sesc Belenzinho nos dias 17, 18 e 19. “Com as eleições e o final da pandemia, o ano passado acabou sendo muito tumultuado. Achei melhor adiar o projeto para o começo deste ano”, afirma Nóbrega.
A apresentação vai revisitar um apanhado de obras que marcaram a trajetória do artista, além de trazer criações inéditas. “Reúno canções, danças e cenas de espetáculos que criei, como Na Pancada do Ganzá, Lunário Perpétuo, Nove de Frevereiro, Rima, Figural e outros”, ele explica.
A apresentação ganha um toque especial com a participação dos filhos Maria Eugenia Tita e Gabriel Nóbrega, além da esposa. “Rosane participou de uns 80% dos espetáculos que fiz. Minha filha é bailarina e meu filho, publicitário, diretor de cinema e, em que pese aqui a vaidade do pai, muito bom músico”, diz Nóbrega — Gabriel integra a banda Silibrina, que participará dos shows.
“Poder criar por tantos anos, com saúde, faz disso mais que um espetáculo: é uma festa”, completa Rosane. A celebração inclui um quarteto de músicos que acompanham Nóbrega há décadas: Edmilson Capelupi (cordas), Cleber Almeida (bateria), Olivinho (acordeon) e Zezinho Pitoco (sax alto e zabumba).
Violinista desde criança, Nóbrega começou a carreira no Quinteto Armorial, grupo instrumental formado pelo escritor Ariano Suassuna (1927-2014) para fazer música de câmara com raízes populares.
A partir dessa pesquisa musical, nos anos 70, Nóbrega partiu em trajetória solo, criando uma série de encenações autorais dedicadas à cultura brasileira que juntam música, dança e teatro. “O tipo de arte que faço é muito comprometido com o maracatu, os ritmos do caboclinho, o samba e o baião”, conta Nóbrega, homenageado em uma ocupação do Itaú Cultural em 2013.
Há, ainda, uma quinta data comemorativa, desta vez em 2023: os quarenta anos da vinda para São Paulo. “A cidade me tratou bem, apesar de um certo preconceito que ainda encontrei com os nordestinos, que cada vez mais tende a diminuir. Mas não tenho do que reclamar”, diz o multiartista, que recebeu o título de Cidadão Paulistano em 2008.
“A maioria dos artistas nordestinos, na década de 60 e 70, ia para o Rio de Janeiro quando queria se profissionalizar. Preferi São Paulo porque sinto um vínculo mais natural entre os pernambucanos e os paulistas. Lido melhor com a cultura mais reservada da cidade”, reflete.
Dez anos após chegar às terras paulistanas, ele fundou, na Rua Purpurina, um centro de ensino dedicado à cultura popular: o Instituto Brincante.
Depois de uma tumultuada mudança de endereço em 2016 — a sede que alugavam foi vendida para a construção de mais um prédio na região —, o casal conseguiu, apoiado por uma onda de financiamento coletivo, realocar a escola na mesma rua, em dois terrenos que já pertenciam ao grupo.
“Houve uma adesão nacional à causa, que nos espantou favoravelmente. O Brincante hoje são duas casinhas que adquiri com o tempo, meus dois únicos investimentos além do lugar onde moro. Uma incorporadora nos ofereceu um bom dinheiro pela venda, mas a gente segurou”, ele afirma.
Após a mudança, nem a pandemia conseguiu removê-los dos trilhos. “Antes da Covid-19, estávamos em uma ascensão grande, com muitos alunos, tentando conseguir subsídios para oferecer cursos gratuitos a redes de ensino. Com a pandemia, vencemos as dificuldades através de cursos on-line”, conta Nóbrega.
Rosane, que atua como coordenadora pedagógica, também traz as marcas do período difícil. “Foi muito desafiador para quem vive das expectativas físicas — no Brincante, a gente trabalha com o corpo, a voz. Mas a associação com a tecnologia trouxe uma experiência que está sendo útil. No fim das contas, estamos ressuscitando de um outro jeito”, ela conclui.
Sesc Belenzinho. Rua Padre Adelino, 1000, Belenzinho, ☎ 2076-9700. 12 anos. → Sex. (17) e sáb. (18), 21h. Dom. (19), 18h. R$ 40,00. sesc.org.br.
Publicado em VEJA São Paulo de 15 de março de 2023, edição nº 2832
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