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Aupinard, estrela da música na França e influenciado por João Gilberto

Artista tinha 14 anos quando deparou-se com Saudade Fez um Samba

Por Oswaldo Carvalho, de Paris
28 jun 2024, 09h00
Aupinard: inspiração brasileira
Aupinard: inspiração brasileira (Léa Esmaili/Divulgação)
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A lista de artistas que optaram pela carreira musical depois de ouvir João Gilberto pela primeira vez — que inclui Chico Buarque e Caetano Veloso — acaba de crescer, a mais de 7 000 quilômetros de distância de Juazeiro, cidade natal do gênio baiano.

Aupinard tinha 14 anos quando, zapeando pelo YouTube em seu quarto em Bordeaux, na França, deparou-se com Saudade Fez um Samba, composição de Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli gravada por João.

Hoje aos 22, o rapaz é uma estrela em plena ascensão no país europeu, misturando bossa nova com R&B. As casas noturnas de pequeno e médio porte já não comportam mais o seu público. Em maio, 22 000 pessoas cantaram sucessos como Quel Type de Vibe? num estádio em Lille.

Aupinard: inspiração brasileira
Aupinard: inspiração brasileira (BMG France/Divulgação)

Em fevereiro de 2025, antes de completar três anos em atividade, o músico se apresentará no Olympia de Paris, um dos palcos mais emblemáticos da Europa. Já tocou na Bélgica, Alemanha e Holanda e não deve demorar a vir a São Paulo: “Eu não conheço o Brasil, mas do ano que vem não passa”, assegura.

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Desde novinho, ele gostava de batucar. “Minha mãe me trouxe um djembê (instrumento de percussão) de presente do Congo e depois ganhei um piano, mas achava difícil e peguei um violão abandonado do meu pai”, lembra. Acabou descobrindo a bossa nova pesquisando acordes para praticar. “Eu buscava de tudo, mas me apaixonei pela música brasileira”, afirma, mostrando no celular uma playlist com Trio Mocotó, Elis Regina, Edu Lobo e Marcos Valle.

Durante a pandemia, com violão mais maduro, Aupinard resolveu publicar suas experimentações no Tik Tok e viralizou. Mas ainda não se arriscava no estilo musical brasileiro. “Eu nem conhecia o termo apropriação cultural, mas achava que um francês não deveria fazer bossa nova.” Mudou de opinião ao ouvir Le Remède, uma bossa do rapper francês Luidji — ídolo de Aupinard, com quem já dividiu o palco, numa dessas recompensas que a fama traz.

No fim de 2022, já famoso nas redes sociais, ele assinou contrato com a BMG France e lançou o EP de forte inspiração brasileira, a começar pela capa, referência clara a uma cena do filme Cidade de Deus. Ouve-se uma cuíca na faixa Brasília, enquanto o batidão do funk se mistura à bossa nova em Sois en Sûre. Há ecos de João Gilberto no violão, na voz suave do músico francês e até na duração das canções, curtinhas como as primeiras gravações do baiano.

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Mas as comparações param por aí. Seu som tem pegada rap e forte influência do R&B. Se o brasileiro imortalizou a câmera fotográfica alemã Rolleiflex em Desafinado, de Tom Jobim e Newton Mendonça, Aupinard prefere compartilhar fotos com a namorada na plataforma Pinterest, como canta em Parisienne High Level.

Atualmente, o músico se divide entre os shows e a gravação de um novo álbum, previsto para o fim do ano. E se até recentemente tinha dúvidas se retomaria os estudos em informática, interrompidos pela música, hoje tem certeza de que não.

Publicado em VEJA São Paulo de 28 de junho de 2024, edição nº 2899.

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