Aposta do eletro rock, dupla Aldo relembra noitadas com tio doidão
Irmãos paulistanos André e Murilo Faria levam show do primeiro disco, <em>Is Love</em>, ao Beco 203 neste domingo (22)
Mais de dois meses depois do festejado lançamento do disco de estreia, Is Love, na Casa do Mancha, a banda Aldo volta aos palcos paulistanos. Desta vez, eles tocam no Beco 203, no domingo (22), dividindo o line-up com o projeto Inky. A entrada é gratuita.
Aldo, para quem não sabe, é o nome de uma pessoa. Um tio doidão que carregava os irmãos André e Murilo Faria noite afora nos anos 80 e 90. Naquela época, os Faria eram crianças, mas o tio Aldo não estava nem aí. Subia e descia a Rua Augusta em seu Santana Sport vermelho, paquerando as garotas, com Frank Sinatra, Gipsy Kings ou até um samba-enredo bombando no som do carro. Os anos se passaram, os garotos cresceram e o tio doidão virou evangélico. As lembranças foram exorcizadas em Is Love, o disco. E do disco nasceu Aldo, a banda.
Com um passado irreverente deste e experiências bem-sucedidas na noite – André é o cabeça da banda de rock alternativo Faria & Mori e Murilo, o DJ Mura –, não foi difícil para a dupla deslanchar na cena paulistana. São oito faixas de um bem bolado de rock com eletrônico, com um brilho indie pop. É som para pista. No palco, André assume guitarra e os vocais, enquanto Murilo fica nos teclados e nos sintetizadores. Completam a banda o baterista Érico Theobaldo (Thelepatiques e Embolex) e o baixista Isidoro Cobra (ex-Jumbo Elektro).
Saiba mais sobre as histórias de tio Aldo, o que ele achou do disco e de ondem vêm as referências dos rapazes na entrevista abaixo:
VEJASAOPAULO.COM – Como vocês decidiram se juntar e formar a banda Aldo?
André e Murilo Faria – A banda surgiu em uma mesa de bar. Estávamos relembrando as noitadas com o nosso tio Aldo nos anos 80 e 90. Era coisa de gente grande, mas tínhamos 7 e 13 anos na época. Concluímos que precisávamos fazer uma música sobre isso. A música (Real Person) acabou virando o disco, e depois, banda.
Qual foi a reação do tio Aldo, agora evangélico, ouvindo um som inspirado em parte no passado danado dele? Engraçado, né? O nome da banda foi vetado pela nossa mãe (Dona Sandra). Ela não queria que o passado do nosso tio fosse exposto. Mas o passado dele foi o nosso passado e o de uma geração. No meio do processo tínhamos que pensar em outro nome e usamos Mr. Nelson – que, na verdade, é o Aldo disfarçado. Deu certo para a música, mas não tinha como mudar o nome da banda. Com isso, chamamos o nosso tio para um jantar e pedimos a aprovação dele. Ele quis ouvir o disco antes. Ouviu uma vez. Pediu para ouvir de novo… No final da segunda audição ele vira para a nossa mãe e diz: “Sandra, deixa os meninos se divertirem”. Nossos olhos brilhavam como os de uma criança naquele dia. Quando o disco saiu, o tio Aldo ficou emocionado com a homenagem.
De que forma suas experiências com ele influenciaram a sonoridade da banda? Pelo fato de as histórias se passarem na virada da década de 80 para 90, buscamos uma sonoridade daquela época. O tio Aldo sempre teve um gosto eclético que ia de samba-enredo a Frank Sinatra, passando por Gipsy Kings. Quando a gente passeava com ele pela noite de São Paulo, era isso que ouvíamos. Claro que o nosso som não possui nenhuma das influências acima, mas o fato de não nos atermos a nenhum gênero é uma herança dele. Outra herança do nosso tio: sabendo que o Mura é DJ, ele doou toda a sua coleção de discos de vinil para ele. Estamos falando de 3 000 LPs!
Algumas faixas têm um pouco de melancolia. Mexer com o passado tem dessas coisas, né? Simon Reynolds, um dos maiores críticos musicais da atualidade, disse que a melancolia é uma beleza que bate fundo, ou uma mágoa doce. Acreditamos nisso. Naked Man In The Sky, por exemplo, é sobre a dura beleza da mudança.
A cidade influencia o som de vocês? São Paulo não é uma cidade difícil, mas única. A agressividade dela nos influência no som. A quantidade de gente maluca nessa cidade nos ajuda a romper com qualquer regra musical. E as noitadas meio “sem lei” nos inspiram nas letras.
E por que as letras são em inglês? Não há um motivo claro para isso. Talvez porque nossas referências sejam, majoritariamente, americanas e inglesas. Além do mais, é mais fácil escrever em inglês.
O que vocês têm ouvido, tanto de artistas daqui como de fora? Nós ouvimos de tudo. Essa pergunta daria um livro. Ouvimos de disco music a indie rock. Aqui no Brasil tem muita coisa boa sendo feita. Podemos citar Stop Play Moon, Dorgas, Opala (da Maria Luiza Jobim), Me & The Plant. Além de nossa banda brasileira preferida: Clube da Esquina. Lá fora, Jagwar Ma, SebastiAn, Mr. Oizo, My Bloody Valentine, Mogwai. A lista é infinita! Somos fãs incondicionais do Yo La Tengo. O Mura chegou até a entrevistá-los.
FAIXA A FAIXA
1. Real Person. Primeira faixa do disco e da banda. A ideia foi deixar claro que nosso tio Aldo é um cara de verdade (e dos bons), de carne e osso, assim como as suas histórias
2. Murray’s Pomade. Trata-se de uma homenagem ao estilo dos amigos do nosso tio, com cabelo de gel sempre para trás. Usamos a pomada para cabelos importada Murray’s como inspiração.
3. New Beginning. A letra fala sobre a possibilidade de mudar de vida. Sobre o poder de um novo começo. Todos temos direito a isso.
4. Mr. Nelson. Além da história relatada acima, falamos sobre um momento muito legal da nossa vida, quando íamos com o nosso amigo e baterista Daniel Setti ao Milo Garage todo sábado – religiosamente– ver o DJ Guab discotecar.
5. Wake Up, Girl! A última a entrar no disco. Somos fã de Prince e sexo!
6. The City is Waiting. Essa música é uma compilação de noites com o tio Aldo, no começo dos anos 90. Nessa época ainda tínhamos 7 e 13 anos. Ele nos levava para cima e para baixo em seu Santana Sport vermelho, inclusive para ver as garotas do Baixo Augusta, que na época ainda era um lugar barra pesada. Adorávamos!
7. Reverse. Chaves foi muito importante para nossa criação e, vendo em retrospecto, o programa era triste pra caramba. A letra fala sobre a nossa vontade de tocar e seguir com o projeto (mesmo com alguns desentendimentos familiares com nossa mãe e entre nós mesmos –brigamos no fim do disco, mas depois fizemos as pazes).
8. Naked Man in the Sky. O tema é redenção e o clima é New Order. É o novo começo sendo posto em prática. É o tio Aldo deixando o mundo carnal para trás e entrando na fase mais espiritual (virou evangélico). Talvez seja o momento mais melancólico do disco, mas ao mesmo tempo bonito.