Labirintos criativos: as singularidades do artista visual Batman Zavareze
Saiba mais sobre a trajetória do criador de imersões visuais em grandes turnês, eventos como Olimpíada e G20 e espetáculos como a ópera 'Nabucco'
O conteúdo audiovisual da ópera Nabucco — em cartaz no Theatro Municipal até este sábado (5) —, projeções na Olimpíada do Rio, a experiência visual do restaurante Mesa do Lado, do chef Claude Troisgros, e a direção artística em shows grandiosos de Marisa Monte, Tribalistas, Ney Matogrosso e Natiruts. Tudo isso tem as mãos do artista visual carioca Batman Zavareze, 51.
O criador recebeu a reportagem de VEJA SÃO PAULO na sala de espetáculos do Municipal, na estreia de Nabucco, dirigida por Christiane Jatahy. “O meu trabalho é muito sobre a interseção entre teatro e cinema, e o Batman é um artista que admiro profundamente. Pensei nele para trazer a explosão da imagem para fora da tela”, conta a diretora.
O convite para trabalhar em uma ópera foi inédito para ele, mas desafios que alcançam terrenos desconhecidos são os seus preferidos. “Me interesso mais pelas coisas que eu nunca fiz. Se estou seguro, vou entregar algo repetido, e esse é o meu maior fracasso”, comenta.
Essa sua curiosidade teve um primeiro incentivador: o avô David. “Ele me ensinou a fabular o mundo”, conta o artista, lembrando do avô o instigando a expandir as cenas dos seus desenhos até os limites da imaginação. “Ele tem uma influência enorme no que eu faço.”
Foi o amor pelos quadrinhos que rendeu o apelido que o acompanha desde a escola e a faculdade de desenho industrial — hoje, quase ninguém o chama de Marcelo. Batman começou a carreira como assistente de câmera na MTV e seguiu no ramo audiovisual em uma produtora e também como documentarista.
No fim dos anos 1990, morou na Inglaterra e na Itália, onde integrou a residência artística Fabrica. De volta ao Rio, criou o Festival Multiplicidade, em 2005. A primeira grande turnê da qual participou foi Verdade, uma Ilusão, de Marisa Monte, em 2011 — para ele, foi uma “revolução” criativa.
“Trabalhamos um ano inteiro. Quando você tem esse tempo, consegue errar, arriscar e prototipar. Criei uma relação de coletivos de pessoas, para encarar trabalhos longos, de aprendizados e trocas”, explica.
Projetos cada vez maiores vieram depois, como as projeções no encerramento da Olimpíada do Rio 2016 e a direção visual do Festival do Futuro, na posse do presidente Lula em 2023.
“Entendi que nós estamos em um labirinto, e, se você vai em linha reta, não tem margem para desviar. É um processo de buscar algo que hoje não está compreendido, mas amanhã pode ser um caminho”, observa.
Em São Paulo, é possível conferir o trabalho visual de Batman na peça Ao Vivo [Dentro da Cabeça de Alguém], com Renata Sorrah, em cartaz até 1º de dezembro no Teatro do Sesi-SP, e no musical infantil Sonho Encantado de Cordel, que estreia dia 12, no Teatro Claro Mais SP.
No fim do ano e em 2025, devem passar por aqui as novas turnês de Zeca Pagodinho, Paulinho da Viola e Martinho da Vila. No Rio de Janeiro, acontece em novembro a reunião do G20, e o evento cultural da programação, nos dias 14, 15 e 16, terá sua assinatura na direção artística.
Projetos e novidades não faltam para o artista que, na correria, aprendeu a arte de valorizar o tempo. “Tenho uma relação com o tempo que, para mim, é muito cara. Eu preciso dilatá-lo, e não encurtá- lo”, afirma. ■
Publicado em VEJA São Paulo de 4 de outubro de 2024, edição nº 2913