SP-Arte abre espaço fixo em casa projetada por Flávio de Carvalho
A Casa SP-Arte ocupa a antiga sede da galeria Gomide&Co, na Vila Modernista, conjunto de "residências do futuro" erguida pelo arquiteto nos anos 30
Na Alameda Ministro Rocha Azevedo, nos Jardins, uma construção se destaca. Trata-se do número 1052, uma casa branca de um andar com uma fachada semicircular sustentada por uma coluna central. Sua aparência diferente dos outros prédios da via não é mero acaso: reformada de acordo com sua estrutura original, ela é a única remanescente da Vila Modernista, conjunto de dezessete casas projetado pelo arquiteto e multiartista Flávio de Carvalho (1899- 1973) na década de 30. A partir deste sábado (18), o espaço, que antes abrigava a galeria Gomide&Co, abre as portas como sede da SP-Arte, maior feira de arte e design da América Latina.
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Chamado de Casa SP-Arte, o novo centro cultural é uma parceria entre a feira e a galeria, que acaba de se transferir para a Avenida Paulista, e abre com a exposição Hélio Oiticica: Mundo-Labirinto, que reúne 18 obras de diferentes épocas do artista carioca (1937-1980). “Depois de quase vinte anos de feira, queríamos ampliar os horizontes e lançar projetos mais intimistas, com galerias parceiras”, explica Fernanda Feitosa, diretora da SP-Arte. Tanto ela como Luisa Duarte, nova diretora artística da Gomide&Co, que organiza a mostra, acreditam que as obras de Oiticica e a estrutura da casa formam “uma bela união”. “Montar Oiticica nessa casa é algo muito especial, pois ele está em diálogo com a arquitetura singular pensada pelo Flávio de Carvalho. Vai dar para ver o Relevo espacial (a obra Relevo espacial (vermelho), de 1959), em um ângulo inédito”, adianta Luisa. “Eles gostariam desse encontro se estivessem vivos”, brinca Fernanda.
A retomada da função cultural do espaço, que já abrigou de escritório de arquitetura à loja de chocolates, se relaciona com a essência pensada por Carvalho para o projeto da vila. O artista, considerado um dos precursores da arquitetura moderna no Brasil, imaginou as casas entre as alamedas Lorena e Ministro Rocha Azevedo como as residências do futuro. “Ele tinha um sonho utópico de ensinar as próximas gerações a viver diferente, fora das convenções burguesas de individualidade. Por isso, as casas não tinham quartos para empregados, algo muito comum na época, tinham área externa coletiva, quartos pequenos em oposição a uma grande sala, para que as pessoas convivessem”, explica Thiago Gomide, diretor da galeria que leva seu nome.
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Nesse espaço, além de Relevo espacial (vermelho) (1959), estarão algumas das telas da série Metaesquemas e trabalhos que marcam a transição da arte do quadro para o ambiente, como o Penetrável (PN1) (1961) (foto), posicionado no centro da galeria, e integrantes das séries dos Bólides, objetos como caixas e recipientes com diversos materiais dentro, e dos Parangolés, espécie de capas, tendas e faixas feitas de tecido e plástico concebidas inicialmente para serem usadas pelo público. “Trazemos um pouco de cada fase do Hélio”, explica Luisa.
O espaço expositivo fixo é apenas uma das novidades da SP-Arte. A feira deste ano, que acontece entre 29 de março e 2 de abril no Pavilhão da Bienal, conta pela primeira vez com um aplicativo, que vai possibilitar que os usuários acessem o mapa dos expositores e a programação que ocorre dentro e fora do Pavilhão. As tradicionais talks, conversas mediadas sobre o mundo da arte que ocorrem durante o evento, serão transformadas em episódios de um podcast disponibilizado na internet depois da feira. Além de ganhar lounges para descanso dos visitantes, o Pavilhão terá um número maior de expositores de design e um novo setor, denominado showcase. Inspirado em modelo já adotado pela Art Basel, feira de arte que acontece em Miami, nos Estados Unidos, a nova seção será uma mostra com trabalhos que se espalham por estandes de algumas galerias presentes na SP-Arte, com a curadoria de Carollina Lauriano. “Estamos animados para a edição deste ano. Com o final da pandemia, a transição do governo e a nomeação do Adriano Pedrosa (diretor do Masp) como curador da Bienal de Veneza do ano que vem, o Brasil voltou aos holofotes do mercado da arte”, conclui Fernanda.
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Publicado em VEJA São Paulo de 22 de março de 2023, edição nº 2833