Conheça o novo centro cultural de São Paulo, em prédio histórico na Bela Vista
Com doze andares, Instituto Brasileiro de Teatro (iBT) será palco de programações gratuitas e terá café-bar comandado pelo chef Rodrigo Oliveira

Construído na década de 50, o edifício do número 277 da Avenida Brigadeiro Luís Antônio foi por mais de uma década lar da badalada Lions Nightclub. A pista de dança deu lugar ao palco e, em 2022, o prédio de doze andares, distribuídos em 7 500 metros quadrados, foi adquirido pelo Instituto Brasileiro de Teatro (iBT). Após dois anos de intensas reformas, o instituto se organiza para abri-lo ao público como centro cultural, com a inauguração no próximo dia 29. “Queremos impulsionar a produção teatral na cidade e entregar para a população um espaço para as pessoas poderem consumir arte de qualidade e de forma totalmente acessível. Esse é um equipamento para as pessoas ocuparem”, resume o diretor-executivo do iBT, Thiago Albanese.

As programações gratuitas estarão concentradas no térreo, chamado de Palco Praça, que vai receber de espetáculos teatrais a apresentações musicais. Os programas já confirmados para setembro incluem o Karaokêra Kerida, karaokê semanal comandado pelo Coletivo Acuenda, formado por drag queens do Jardim Romano, na Zona Leste da capital. O projeto Encruzas vai promover encontros entre nomes musicais como o cantor Renato Braz e o percussionista Maurício Badé e a atriz e cantora Verónica Valenttino e o multi-instrumentista Lucas Melifona.


“Queremos trazer combinações inusitadas”, explica a diretora de curadoria, Aline Mohamad. Haverá ainda eventos de sarau, slam e poesia, com nomes como Tatiana Nascimento; oficinas para todas as idades; e contação de histórias para as crianças — Geni Núñez é um dos nomes confirmados. O local vai sediar também um café-bar, comandado pelo chef Rodrigo Oliveira (dos restaurantes Mocotó e Balaio). Outras atrações, como festas, vão ocorrer no 1º andar, voltado para eventos e disponível para aluguel, e no 10º andar. Tudo isso, claro, sem esquecer do teatro, foco dessa organização sem fins lucrativos fundada em 2021 com o objetivo de popularizar a arte teatral no Brasil. O espetáculo de abertura será Apenas o Fim do Mundo, uma colaboração entre o Grupo XIX, de São Paulo, a Companhia Brasileira, de Curitiba, e o Magiluth, de Recife.
“A gente quer que esse espaço seja uma praça mesmo, que a população se sinta convidada a entrar e estar aqui e consumir cultura. Por isso o piso é feito das mesmas pedrinhas da calçada e tem muitas portas”, diz Thiago. “Derrubamos tudo que não era estrutural do prédio”, completa. Alterações também foram necessárias para tornar mais arejados os cinco andares dedicados a salas de ensaio. São oito no total, todas usadas pela comunidade artística desde o ano passado por meio do Edital Ocupação, iniciativa do iBT para democratizar o fazer teatral.

“Temos uma comissão que analisa os projetos sempre com um olhar artístico, mas principalmente com um olhar socioeconômico para privilegiar grupos periféricos ou que não teriam condição de ter um espaço desses para ensaiar. No último edital, em que a gente contemplou 31 grupos, foram mais de 180 inscritos. Aí vemos como tem demanda e como falta espaço”, reflete Thiago. Também é possível que as companhias ou grupos teatrais aluguem as salas para ensaio, o que faz com que, mensalmente, cerca de 45 grupos ensaiem nas salas do iBT. O musical Nossa História com Chico Buarque, por exemplo, foi inteiro ensaiado lá.

Ao todo, foram investidos 45 milhões de reais no novo centro cultural, entre 20 milhões na aquisição do imóvel e 25 milhões de reais em sua restauração, com recursos ancorados pela Viva do Brasil, empresa mantenedora do iBT, e apoio de leis federais de incentivo à cultura. Ainda neste ano, o Centro Cultural iBT vai inaugurar uma programação de exibição de filmes no 1º andar, seguidos de debate com os realizadores, e um restaurante, também comandado por Rodrigo Oliveira, que marcará o início do Prato do Dia, programação de esquetes de no máximo trinta minutos performados na hora do almoço. “As pessoas almoçam e, se sobra um tempinho, vão ao Palco Praça comer um pouquinho de arte também”, brinca Aline. No primeiro semestre do ano que vem, abre ainda o seu mirante, no 12º andar, o ápice da vista do prédio para ícones do centro como a Catedral da Sé. Como diz o lema do iBT, água e teatro não se negam a ninguém.
Publicado em VEJA São Paulo de 8 de agosto de 2025, edição nº 2956.