Cristiano Mascaro abre ateliê no Centro com exposição e imagens inéditas
Fotógrafo, conhecido por retratar o cotidiano e a paisagem urbana de São Paulo, montou estúdio aberto ao público em apartamento na República
Centro de São Paulo, 5h da manhã. Com uma mochila e uma máquina fotográfica, Cristiano Mascaro, 79, vai ao encontro do desconhecido. “Saio para fotografar sem saber o que encontrar. Vivo de espanto”, afirma. Essa metodologia proporcionou-lhe imagens poéticas e impactantes da arquitetura e da paisagem urbana paulistanas.
Mais de cinquenta delas serão apresentadas a partir de sábado (18), até 20 de julho, na exposição de abertura de seu novo ateliê. Localizado no Edifício David Cury, no número 276 da Rua 24 de Maio, esquina com a Avenida Ipiranga, o espaço foi batizado de 15º Andar, pavimento que ocupa. Graças aos janelões, o visitante é recebido com uma vista privilegiada da Praça da República e do horizonte de prédios. No dia da inauguração, o horário vai das 10h às 19h. Depois, segue todas as sextas e sábados, das 10h às 17h.
A seleção de fotos contempla diferentes épocas, desde o início da sua atuação, na década de 1970, até os dias de hoje, entre ampliações analógicas e impressões digitais. A última mostra que traçou um panorama de seu trabalho ocorreu em 2019, no Sesc Pinheiros.
O fotógrafo pretende montar duas exposições por ano. Para além de exibir as obras, o objetivo do espaço é disponibilizar as peças para venda em tiragens menos restritivas e com formatações diversas. Assim, as imagens poderão ser adquiridas por um preço mais acessível. O ateliê também será palco de cursos, workshops, palestras e debates voltados para o universo da fotografia, em parceria com o curador Rubens Fernandes Junior.
Nascido em 1944 em Catanduva, interior paulista, Mascaro mudou-se para a capital com os pais aos 5 anos de idade. Eles moravam em um prédio na região da República, perto de onde fica o ateliê. “Tenho muitas lembranças afetivas dessa época, de passar pelo antigo prédio do Mappin e andar pela Avenida São João no caminho para a escola”, ele conta. Na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, teve contato com a obra do francês Henri Cartier- Bresson (1908-2004) e quis seguir carreira na fotografia.
Com a ajuda da “madrinha” Claudia Andujar, como ele chama a fotógrafa, começou a trabalhar para a revista VEJA no fim dos anos 1960. Na década seguinte, constituiu família e decidiu mudar-se para a Granja Viana, onde poderia criar os filhos em uma casa maior. “Ironicamente, foi quando mais fotografei São Paulo.”
As crianças cresceram e, junto da esposa, voltou à cidade este ano e comprou um apartamento na Avenida Angélica. Com o espaço pequeno para seus livros e fotografias, precisou alugar um outro local para armazenar o acervo. “Fico orgulhoso de estar no centrão. Não é só centro, é o ‘centrão’ da cidade”, brinca Mascaro.
Após mais de cinco décadas de carreira, ele vive um momento de satisfação com o trabalho feito e de inquietação pelos próximos passos — e cliques. “Tenho a mesma curiosidade de sempre. Digo que estou na fase da pós-aposentadoria. Como fotógrafo, não tenho data para me aposentar e assim vou continuar.”
Publicado em VEJA São Paulo de 17 de maio de 2024, edição nº 2893