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Pegue os cannoli!

Por Matthew Shirts
Atualizado em 27 dez 2016, 19h00 - Publicado em 2 abr 2016, 00h00
Crônica - Pegue os cannoli!
Crônica - Pegue os cannoli! (/)
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Deixe a arma e pegue os cannoli” é uma das frases mais conhecidas do cinema americano. É dita pelo personagem Peter Clemenza, no filme O Poderoso Chefão, a Rocco Lampone, quando este comete seu primeiro assassinato, matando o motorista traidor, Paulie Gatto.

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Você deve recordar a cena. Antes, ao sair de casa, a mulher de Clemenza pede a ele que não se esqueça dos cannoli, encomendados em algum estabelecimento da cidade, supõe-se. Diante de tudo o que acontece depois, seria compreensível se ele os esquecesse. Mas, não, Clemenza cumpre com suas obrigações. Os cannoli já estão no carro quando Paulie é morto.

Penso nisso enquanto assisto à partida entre Juventus e Taubaté da arquibancada do campo do time paulistano, na Rua Javari, no bairro da Mooca. Isso há duas semanas. Conhecia o pequeno e simpático estádio, mas nunca havia visto um jogo ali. O local faz parte da história da nossa metrópole.

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Foi lá, em 1959, que Pelé fez seu gol mais bonito, segundo o próprio, dando três chapéus na defesa do Juventus, no goleiro inclusive, antes de enterrar a bola no fundo da rede. Há, na entrada do lugar, uma estátua (bonita, diga-se) que comemora o feito. Mas eu me lembrei da cena do filme por causa dos cannoli. O estádio é conhecido, também, pela venda da iguaria lá dentro. Eu sempre soube disso. Faz parte do folclore italiano daqui.

Um pouco antes do fim do primeiro tempo, 0 a 0 no placar ainda, um dos meus anfitriões ali começa a arrecadar dinheiro entre a nossa turma para a compra dos cannoli do seu Antônio. A fila, ao que parece, costuma ser grande. Penso em me oferecer para o trabalho, mas sinto que não é uma tarefa para amadores. Meu amigo pergunta se quero de creme ou de chocolate e sou atingido, como se por um raio do céu, por uma epifania. Dou-me conta de que não sei o que é esse doce. Nunca o vi, muito menos o experimentei.

Desde 1975, quando assisti a O Poderoso Chefão pela primeira vez, garoto ainda, comento a cena. Mas, para mim, cannoli seria algum tipo de macarrão, parente próximo do ravióli, talvez. Não imaginei que havia de chocolate. Minha ignorância aumenta a expectativa. Gosto de doce. O parceiro demora para voltar. Chega o intervalo do jogo e o vejo ali, do lado do campo, no alambrado, junto com outro amigo nosso oriundo do bairro.

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“E os cannoli?”, pergunto ao meu vizinho de arquibancada. “Eles estão fazendo sinal de fila grande”, responde. Começa o segundo tempo e o meu amigo continua no alambrado. Marcamos um gol. A partida vai terminar em 1 a 0, vitória importante para o time da casa. Quando faltam cinco minutos para o fim, meu amigo reaparece no nosso pedaço carregando vários embrulhinhos.

Notara eu, antes, aliás, diversos torcedores com os mesmos pacotes. Ele oferece-me um doce, de creme. É um canudo de massa folhada, grande, com muito recheio. Sou atingido por outra epifania, a segunda do dia. Aquilo é muito bom. Uma iguaria. Delicioso. Divino. De repente, O Poderoso Chefão faz mais sentido. O mundo também. Deixe a arma e pegue os cannoli!

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