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“Dei sorte de viralizar, agora todos pedem propagandas”, diz Supla

O roqueiro afirma que virou um lucrativo influenciador digital, defende o PT (partido pelo qual pode disputar as eleições) e fala sobre a rotina no centro

Por Pedro Carvalho
Atualizado em 27 Maio 2024, 22h32 - Publicado em 21 jan 2022, 06h00
Foto de Supla em frente a um mural colorido, no centro de SP.
Na Praça da República: “Quem vem de fora ama a cidade”. (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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Aos 55 anos, Supla é o mesmo de sempre: o mesmo cabelo, as mesmas expressões em inglês no meio da conversa, mesma fé no rock and roll. A “eterna juventude” talvez explique o sucesso nas redes sociais — tem 740 000 seguidores só no Instagram. Em 2020, lançou o álbum SuplaEgo. Atualmente, tem mantido conversas com o PT sobre uma eventual candidatura, mas teme que isso prejudique a carreira.

Como está a rotina de morador do centro de São Paulo?

Eu acho São Paulo demais. Já tive o privilégio de morar em Nova York, Los Angeles… Acho o centro demais. Todo amigo que vem do exterior ama São Paulo. O Glen Matlock, do Sex Pistols, veio uns três anos atrás e pirou. Eu moro no mesmo lugar faz catorze anos (perto da Praça da República). Antes, morava nos Jardins. Mas, depois de ter vivido em Nova York por sete anos, me habituei a fazer as coisas na rua, sou um very practical man (um sujeito prático).

O que tem feito na região?

Adoro correr, para me manter em forma. Não tenho roteiro. Saio de touca e roupa preta e vou correndo. Passo pela Galeria do Rock, Theatro Municipal… Eu deveria fazer um programa sobre as coisas que vejo, os personagens do centro. Você vê os problemas e as coisas legais. O grande problema, o que mais me deixa chocado, são as pessoas na rua, na miséria. Atingiu outro patamar, não só devido à Covid, mas à má administração do país. Como diz minha nova música (lançada no dia 21), o surreal virou normal. Você vê o cara deitado no chão, não sabe nem se está morto, e passa por ele numa boa. Na semana passada, vi uma cena, eram imigrantes saídos da Venezuela, a mãe disse: “Somos uma família há trinta anos e tudo o que temos está nesta sacola”. Foi uma das coisas mais duras que já escutei.

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Em 2016, você declarou: “Zé Dirceu está preso por algum motivo”. Qual é seu sentimento, hoje, em relação ao PT (partido do pai, Eduardo Suplicy)?

Acho importantíssimo ter o Partido dos Trabalhadores. Na ditadura militar, não tinha. Se o cara fizesse greve, ia preso. Como você faz isso com uma pessoa que acorda às 5 horas da manhã e pega duas conduções? Meu pai sempre trabalhou pelo povo de coração. Minha mãe (Marta Suplicy), pelas pesquisas, foi uma das melhores prefeitas de São Paulo (à época, também pelo PT). Sobre o Lula, é bola para a frente. Ele pagou, ficou uns anos (preso), né?

Vê erros na legenda?

Ué, não teve o mensalão? Que é algo que o FHC deve ter usado no tempo dele e que agora a gente vê no Centrão. Essa forma de fazer política tem de acabar. Tem de negociar, mas não pagando.

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Qual é seu veredicto sobre Lula?

Acho que é um cara que adquiriu tanta experiência que teria a capacidade de fazer melhor. Você já viu aquilo, conhece de cor e salteado aquilo… Pagou por alguns deslizes que houve. Entre ele o Bolsonaro, não tem nem o que falar. Vou votar no Lula, claro.

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Você pode ser candidato em 2022?

Tenho conversado (dentro do PT). Existem chances, mas são de média a baixa. Seria muito legal poder ajudar mais as pessoas, mas tenho medo de que prejudique a carreira.

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Hoje, os adolescentes estão mais interessados em games que em bandas. Faz anos que não surge uma grande banda no país. O rock corre riscos?

Não, tem muita gente fazendo música legal. Tudo mudou… Tem o trap (uma evolução do rap), por exemplo, que veio com tudo. É uma forma diferente de fazer arte. Se você prestar atenção no que cantam os caras do trap, tem gente com muito talento. Isso é rock também. Rock é questão de atitude, não de fazer um pá-pá-pá (na guitarra). De repente, o jovem que não usa guitarra é mais rock que você. E a molecada gosta de rock também. Essa molecada me abraçou, eu não paguei para ter seguidores (na internet). Só tenho a agradecer a essa molecada.

Semanas atrás, você postou um vídeo cantando David Bowie com uma banda que tinha sócios da Prevent Senior, em 2017. Era amigo deles?

Não. Eles me convidaram para tocar. Foi muito antes de existir a pandemia. A marca era patrocinadora do Rock in Rio e eles me ligaram, supereducados, para tocarmos juntos. Falei: beleza. Eu que pedi para ser David Bowie (a música Heroes), porque ele tinha falecido e me influenciou muito. Mas nem o meu seguro é Prevent Senior (faz questão de ligar para a corretora).

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Seu número de seguidores cresceu e você tem feito publicidade nas redes sociais. Virou influencer?

Sim. Consegui me reinventar. A situação estava difícil, a gente ficou dois anos sem poder fazer shows e agora tudo foi cancelado de novo. Foi muito lucrativa minha reinvenção. Passei a ser influencer, as pessoas me pedem para fazer propaganda, várias marcas, Doritos, Americanas, bancos, um monte de coisa. Fiz uma campanha que saiu na Vejinha, sobre como fazer visto de imigração em outro país. Tive sorte, porque viralizou um vídeo em que eu dava um golpe na cara de um repórter (numa brincadeira). Fui de 100 000 e poucos seguidores antes da pandemia para quase 800 000. Não fosse isso, talvez eu tivesse morrido na praia, como muitos artistas.

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Você participou da Casa dos Artistas. Gosta de realities? Assiste ao BBB?

Não assisto. Eu fiz a minha parte, né? Mas respeito. É uma forma com que as pessoas conseguem mudar de vida, uma puta chance. Hoje, as pessoas estão tão desesperadas, então, fosse BBB ou qualquer outra coisa que me permitisse conseguir vários contratos, tipo o que aconteceu com Gil do Vigor ou Juliette, eu cortaria um dedo e iria (participar), sem dúvida. Fiz, sou grato ao SBT. Não vejo, mas respeito demais. Teve muita gente de talento descoberta pelo BBB, o Jean (Wyllys), o próprio Gil do Vigor é articulado pra caramba também.

Em 2015, lançou a música Parça da Erva. Aos 55 anos, qual é sua relação com a maconha?

Ah, é a mesma coisa… Parça da erva (risos). Sou a favor de tudo, já falei, da legalização de tudo. Para mim, beber faz mais mal que fumar um baseado. Até quando vamos precisar de babás enquanto cidadãos? Mas tem hora para tudo. Se você bebeu, não dirige. Tenho amigos que conseguem fumar e trabalhar, eu não posso. E não precisa fumar todo dia também. Tem seus momentos. Tem que encontrar o equilíbrio, meu. Esse é o caminho da vida, my friend.

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Publicado em VEJA São Paulo de 26 de janeiro de 2022, edição nº 2773

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