“Ela não me via como pretendente por ser vinte anos mais novo”
Abner Matias e Telma Blanco criaram um canal no Youtube para explorar o tema
“Telma era a mãe do namorado da minha irmã durante a adolescência deles. Ela frequentava minha casa porque levava o garoto até lá. Na época eu também namorava, mas depois que fiquei solteiro comecei a ver Telma com outros olhos. Um dia sonhei que me casava com ela e estava completamente apaixonado. Foi bem nítido, era uma cerimônia simples na parte da manhã. Quando acordei, o que eu senti foi intenso. Eu precisava me declarar.
Carreguei esse sentimento por alguns meses, até que um dia Telma precisou levar o pai para outra cidade e eu me ofereci para acompanhá-la na viagem de carro. Na volta, contei do sonho e ela, chocada, precisou parar o carro no acostamento. Como boa ariana, não teve rodeios. Disse que não me via como um homem-feito, um companheiro. Na minha cabeça, meu plano era simples: eu diria o que sentia e ela me aceitaria. Com a ingenuidade dos meus 18 anos, conversando com uma mulher de 38, perguntei o que deveria fazer, mas ela respondeu: ‘Eu não sei. Isso é um problema seu’.
Por um mês, gastei todo o meu salário enviando flores a ela. Eu precisava conquistá-la. Sei que fui muito insistente. Em uma reunião de amigos na casa dela, as pessoas foram embora aos poucos e eu fiquei. Eu já tinha segundas intenções. Estávamos sentados à mesa, próximos, senti que ela se permitiu e lhe dei um beijo na boca. Foi um momento especial e tímido, de ambas as partes. Quando fui embora, ela se viu apaixonada também e chorou. Sentia-se culpada, achava que estava fazendo algo de errado. Chamou minha mãe para desabafar. Ela a acalmou e aconselhou. Disse que, se era isso que queríamos, não teria problema em tentar. De certa forma, abençoou nossa relação. Minha mãe foi a primeira pessoa a quem eu contei. Ela nunca me julgou ou me achou um doido e sabia que a Telma sempre foi uma pessoa querida.
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Assim começou nosso namoro, que durou apenas três meses, porque o casamento já era algo certo para mim. Foi tão intenso que eu sinto que levou anos para que isso acontecesse. Por que não casar? Acharam que ela estivesse grávida ou que tinha dinheiro envolvido. Não tinha outros motivos. Era puro preconceito contra uma mulher mais velha casando com um cara mais novo. Esse assunto perseguia a gente. Na TV, Reynaldo Gianecchini namorava Marília Gabriela, 24 anos mais velha que ele. Eu sou cabeleireiro desde os 14 e já tinha minha independência financeira e maturidade.
Casamos em maio de 1999, como no meu sonho, às 9 horas. Só tenho flashes de memórias daquele momento porque minha adrenalina estava alta. A cerimônia foi no campo, apenas para os mais íntimos. Brinco que não teve test-drive porque a primeira relação com Telma foi na lua de mel. Depois me mudei para a casa dela, onde morava com o filho, três anos mais novo que eu. Eu o acompanhei em todas as fases: na formatura, saindo de casa, no seu casamento, e virei padrinho do filho dele.
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Até então eu nunca tinha sentido a necessidade de entrar em uma universidade, mas, depois de ver a Telma como cientista conceituada no meio acadêmico, resolvi fazer faculdade de visagismo e terapia capilar. Ela sempre insistiu para que eu estudasse línguas e, quando resolveu fazer um pós-doutorado na França, fui junto para aprender francês.
Na volta, comecei a publicar conteúdos sobre cabelo no meu Instagram pessoal. Percebi que sempre que a Telma aparecia nas fotos o número de visualizações mais que dobrava. Quando pesquisava meu nome, o Google completava a frase com perguntas sobre meu relacionamento. Decidimos criar o canal e o perfil Casal 20 (@casal20youtube) para responder o que as pessoas queriam saber. O número representa nossa diferença de idade e a repercussão foi grande. Me perguntam se ‘eu não tenho vontade de viver a vida’, mas já estou vivendo a vida com a pessoa que eu amo há mais de vinte anos.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 21 de julho de 2021, edição nº 2747