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Elke Maravilha e Pereio são divindades gregas em espetáculo

Montagem que reflete sobre as crises contemporâneas faz parte da ocupação da Cia. Nova de Teatro no Sesc Bom Retiro

Por Bruno Machado
Atualizado em 5 dez 2016, 15h46 - Publicado em 1 ago 2013, 18h07
Paulo César Pereio
Paulo César Pereio (Lucas Lima/Divulgação)
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Sob um pesado manto negro e uma peruca de longos dreadlocks descoloridos, envolta em pulseiras, colares, anéis, braceletes e caveiras, Elke Maravilha está exausta. Depois de uma longa espera para embarcar para São Paulo — causada por um nevoeiro que cobriu o aeroporto Santos Dumont durante horas —, a atriz de 68 anos consegue chegar ao Sesc Bom Retiro a tempo de se apresentar. Ao final do espetáculo, contudo, ela esbanja simpatia. “Nós estamos em crise, a Europa está em crise. O mundo está em crise. Mas isso é algo bom. A crise propõe novas possibilidades. A mãe natureza não gosta de estagnação. A realidade que vem por aí, eu não sei qual é. Acho que ninguém sabe”, reflete. Caracterizada como Hades, o deus grego da morte, ela medita. “Eu gosto muito da morte. Acho que é porque já morri muitas vezes”.

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Desde o dia 16 de julho, a Cia. Nova de Teatro promove uma ocupação no Sesc Bom Retiro, que compreende as apresentações de Caminos Invisibles, documentário cênico sobre a imigração boliviana em São Paulo, e Krisis, misto de instalação, teatro, dança e performance. É nesse último espetáculo que Elke e outra lenda do palco e das telas, Paulo César Pereio, 72 anos, roubam a cena na pele de divindades do panteão grego. “Zeus é o caos. Que outro ator para fazer o caos senão o Pereio?”, provoca o diretor Lenerson Polonini.

 

“Eu já tinha interpretado esse personagem no Teatro Oficina, numa peça de Eurípedes”, explica Pereio. “Depois me rebaixaram para rei, quando fiz Hamlet. Depois de Zeus, você sabe, é só a decadência”. Sobre o espetáculo, ele evitar falar. “Eu realmente não entendo muita coisa dele. Sou a pessoa menos indicada para falar sobre esse texto. Ensaiei um dia e entrei em cena”.  

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Como o nome sugere, Krisis apresenta as crises de mitos e textos gregos da Antiguidade em versões atualizadas. Amparadas por projeções, desfilam Cassandra, Antígona, Creonte e outros personagens clássicos com roupagem atual. No palco, o velho cego Tirésias, também interpretado por Elke, lamenta a crise financeira na Espanha e dispara contra a frivolidade das redes sociais: “Uma foto de um recém-nascido ainda vivo preso no cano de esgoto numa cidadezinha da China. Curtir. Ah, o absurdo! Compartilhar. Todos contemplam comigo o absurdo. Isso faz dele menor? Curtir. Curtir. Curtir. A violência não invadiu somente o seu espaço. Ela tá na sua timeline”.  

 

Segundo Polonini, a montagem nasceu em um momento de crise, no qual a companhia não sabia exatamente que rumo tomar. A ideia de trazer os dramas clássicos para o presente foi corroborada por alguns recentes acontecimentos que sacudiram o país. “O caos que estabelecemos é o das manifestações, do momento político atual. O texto foi escrito no calor do aqui e do agora”, explica. Elke, por sua vez, sentencia: “estamos atravessando uma crise moral. As pessoas acham que a moral está no meio das pernas. Chegamos ao absurdo de um cara aí querer curar gay”, protesta, referindo-se ao pastor Marcos Feliciano, presidente da Comissão de Direitos Humanos. “Sérgio Cabral é um Creonte dos nossos tempos”, completa Polonini, referindo-se ao atual governador do Rio de Janeiro.

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Durante o processo de criação, parte da companhia viajou à Grécia. Em Atenas, no Teatro Attis, fizeram uma residência de quinze dias e apresentaram, no início de julho, uma versão experimental do espetáculo. De volta a São Paulo, a montagem ganhou os ilustres reforços de Elke e Pereio. “São personagens que vivem no nosso imaginário. Eu os escolhi por suas qualidades artísticas. Não tenho qualquer interesse midiático”, garante o diretor.

“Lenerson me chamou pois domino o grego. Muita gente pensa que sou grega. Na verdade, eu nasci na Rússia e fui morar em Itabira”, diverte-se a atriz. Pereio, que trabalha com Elke primeira vez, se diz honrado. “A gente não contracena e mal nos encontramos. Mas mesmo assim, eu acho ela fantástica e maravilhosa, mas isso é papo furado. Todo mundo sabe disso”, brinca o ator. 

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