Forrós lésbico, não-monogâmico e feminista trazem pautas sociais para a dança tradicional
Grupos buscam combater o assédio e a heteronormatividade nos bailes

Entre passos ritmados e abraços apertados, o forró pulsa na capital paulista, conquistando novos espaços e adeptos. Mas, para muitas mulheres, nem sempre é festa. A proximidade dos corpos tensiona limites do consentimento e abre brechas para diferentes formas de assédio. “O forró era um ambiente bastante machista, sexualizado e heteronormativo”, explana Íris de Franco, que começou a frequentar esses bailes no fim da década de 90.
Ela criou o forró Mulheres que Conduzem em 2014, após ser proibida de aprender a conduzir a dança nas escolas que frequentava. Hoje, ela organiza aulas semanais voltadas para o público feminino — além de pessoas trans e não binárias. “O papel da condução tem um valor atribuído a ele porque é tipicamente executado por homens”, explica a professora, que incentiva as alunas a explorarem ambas as posições na dança.
Assim como Íris, Ana Cunha também busca expandir e tornar a dança mais inclusiva. A repórter cinematográfica fundou, há pouco mais de um ano, o Forró Não-Mono. “Queria levantar a pauta de afeto, respeito e liberdade”, aponta. A não monogamia é a principal bandeira levantada pelo grupo, que também acolhe pessoas monogâmicas. Para sua surpresa, logo na primeira festa, os 450 ingressos disponíveis se esgotaram. Com o sucesso da iniciativa, Ana, que nos espaços tradicionais não conseguia se entregar de corpo e alma ao bailado e evitava olhar nos olhos do par, com medo de ser mal interpretada, decidiu criar o Forró Sapatão, para mulheres lésbicas, bissexuais e transgênero. “Existe uma linha muito tênue entre dança e flerte”, explica.

Os novos bailes surgem no embalo do Plano de Salvaguarda elaborado em novembro de 2024 pelo Iphan para a preservação e valorização do ritmo, registrado como patrimônio cultural em 2021. O Mulheres que Conduzem, por exemplo, recebe uma quantia de 50 000 reais anualmente, ainda insuficiente para bancar a operação, tocada por dez pessoas. Não deixa de ser, contudo, um começo na busca por mais inclusão na dança.