Galeria HOA, na Barra Funda, se relança como instituição sem fins lucrativos
Espaço artístico de destaque inaugura nova fase com a intenção de contribuir para o desenvolvimento de novos artistas

A HOA, galeria criada pela artista Igi Lola Ayedun, 34, e conhecida como a primeira do país de propriedade e autoria negra, está se relançando como instituição sem fins lucrativos.
O espaço na Barra Funda, renomado internacionalmente, agora se chama HOA Cultural Society (“sociedade cultural”) e se dedica a abrigar residências artísticas e promover prêmios, ensino gratuito de arte, exposições, performances e outras atividades culturais.
A nova fase está totalmente atrelada à jornada pessoal da fundadora. Diagnosticada com um câncer em estágio avançado em outubro de 2023, Igi está em remissão da doença e conta que havia decidido que, se sobrevivesse, não voltaria mais para o mercado.
“A HOA nunca foi uma galeria tradicional, na forma como lidava com o sistema da arte e no que oferecia aos artistas”, diz a criadora. Ela cita a ajuda de custo para a compra de materiais artísticos e até o pagamento de moradia e ateliê, no intuito de colaborar com a inserção no mercado.
“Para a operação comercial, enquanto negócio, e para mim, enquanto gestora, isso ficou pesado.” Havia o desejo de continuar o trabalho, mas de um jeito mais sustentável, que não fosse “tão refém das dinâmicas agressivas”, numa referência ao segmento.
Em meados de 2024, a proposta começou a ganhar fôlego. “Eu era o business inteiro. Tive que parar e olhar o custo que a galeria e o mercado tiveram sobre minha saúde.”

Nas palavras de Igi, o propósito é transformar jovens talentos em jovens artistas, agora com foco no desenvolvimento — e não mais na comercialização das obras.
Dando destaque à educação, os cursos, já realizados anteriormente de forma pontual, agora ganham protagonismo na programação. A escola on-line vai abranger novos formatos e abrir as chamadas para artistas em geral, sem necessariamente ter relação prévia com a instituição — como acontecia antes.
Outra novidade é a residência artística internacional, em colaboração com o Institut Français, para enviar artistas brasileiros a um programa de dez semanas no centro de pesquisa Dos Mares, em Marselha, e receber artistas francófonos por aqui.
Também serão realizados três prêmios anuais, dedicados a mulheres, a jovens artistas de comunidades marginalizadas e a “perspectivas decoloniais e de justiça social, climática e racial”, nos termos do chamamento.
A sede permanece no número 480 da Rua Brigadeiro Galvão, onde acontecerão pelo menos três exposições por ano.
Fundada em 2020, a HOA construiu fortes relações com instituições mundo afora, realizando parcerias e exibições em locais como França, Reino Unido, Estados Unidos, Itália, Espanha, Bélgica, México e Marrocos. O financiamento para as atividades vem de doações privadas, com a construção de um patronato, e da Lei Rouanet.
Para Igi, o momento é propício para a cultura. “O Brasil está ganhando uma projeção mundial nunca antes vista. Estamos sendo reconhecidos como potência, com Ainda Estou Aqui no Oscar, Liniker e Xênia França no Grammy Latino.”
Na SP-Arte deste ano (2 a 6 de abril), a artista lançará, em colaboração com a Metro Arquitetos, um pavilhão de arte flutuante no Rio Pinheiros, como parte da exposição Águas Abertas. A conferir.
Publicado em VEJA São Paulo de 14 de fevereiro de 2025, edição nº 2931