Espetáculo de marionetes para adultos faz releitura de Shakespeare
Grupo do diretor Leo Lama apresenta 'Escrevendo Romeu e Julieta' no subsolo do B32, complexo corporativo e cultural na Avenida Brigadeiro Faria Lima
O escritor, dramaturgo e diretor Leo Lama, 58, teve de construir um palco do zero para montar sua peça Escrevendo Romeu e Julieta no B32, complexo corporativo e cultural na Avenida Brigadeiro Faria Lima. O espetáculo de bonecos, que estreia neste sábado (13), acontece em uma das garagens do teatro e inaugura a Companhia Dramática de Marionetes, idealizada pelo dono do empreendimento, o arquiteto Rafael Birmann. A proposta é encenar clássicos da dramaturgia com marionetes.
Batizado de Underground, o espaço ocupa parte do 1º subsolo do prédio, destinado à carga e descarga de equipamentos e materiais. Em meio aos depósitos de empresas ocupantes do complexo, como o Facebook, o grupo ergueu uma tenda preta, composta de um palco e uma arquibancada com capacidade para sessenta pessoas. “Era o único lugar onde dava para ensaiar, por causa da altura que os marionetistas precisam ficar para manipular os bonecos”, descreve Lama. As atividades nesse pavimento cessam durante as apresentações. “Vai ficar um sepulcro”, diz ele.
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Ao contrário da maioria das montagens do gênero feitas no país, essa releitura do texto de Shakespeare não é para crianças. “Cortei apenas os ‘excessos’. Toda a história está presente, com sexo e suicídio. Dá para pré-adolescentes assistirem, mas eles não são o público-alvo”, conta o diretor, que é filho do dramaturgo Plínio Marcos e da atriz Walderez de Barros.
O projeto foi idealizado por ele e Birmann em 2015, mas as primeiras marionetes só pousaram na capital no fim do ano passado. Para chegar até aqui, os bonecos de madeira viajaram mais de 10 000 quilômetros de Bratislava, capital da Eslováquia, onde fica o ateliê do casal de artesãos Jana Pilátová e Peter Pilát, responsáveis pela confecção de doze dos catorze bonecos usados em cena.
Lama convidou a marionetista e contadora de histórias Andi Rubinstein para treinar um grupo de seis manipuladores profissionais e quatro aprendizes, oriundos de trupes do país, como a Cia Truks e a Giramundo. “O Brasil não tem tradição de teatro de marionetes como na Europa. Por isso, queremos formar profissionais e público. Muita gente virá ver marionetes e se surpreenderá com Shakespeare”, diz.
Publicado em VEJA São Paulo de 17 de maio de 2023, edição nº 2841