Miami vibra com efervescência tropical e cultural
Em constante e crescente transformação, Miami oferece diversas novidades turísticas, da gastronomia à arte, e abre em dezembro a Art Basel
O ar parece diferente em Miami. Talvez por causa das palmeiras, do clima tropical ou da pluralidade cultural, essencialmente latina, há uma magia caliente na cidade do sul da Flórida. Se antes ela era apenas um local de passagem para brasileiros que seguiam rumo a Orlando, hoje é um destino completo e requisitado por si só.
O lugar passou — e segue passando — por grandes transformações, à medida que crescem o interesse e os investimentos. Nos últimos anos, virou a residência de milionários e bilionários como Jeff Bezos, presidente-executivo do conselho da Amazon, que mudaram para lá atraídos pela política de impostos mais amigável aos donos de patrimônios expressivos.
Outro atrativo foi o início da edição americana da feira Art Basel, em 2002 — a edição deste ano está marcada para 5 a 7 de dezembro. Como resultado, se vê um aumento no número de viajantes. Segundo dados do Departamento dos Transportes dos Estados Unidos, o tráfego direto de passageiros entre os aeroportos internacionais de Miami (MIA) e Guarulhos (GRU) teve um aumento de 11% no ano passado em comparação a 2023, passando de 776 000 para 859 000 passageiros.
Para dar conta da demanda, a cidade está cheia de novidades. Quem é familiarizado com o lugar já conhece bem Miami Beach e o burburinho da Ocean Drive, com os famosos e encantadores prédios no estilo art déco, que suscitam anualmente o evento Art Deco Weekend.
São pontos de parada obrigatórios, mas outros podem surpreender ainda mais — os próprios moradores afirmam preferir outras atividades à praia. No roteiro de quatro dias feito pela Vejinha, o Rubell Museum se destacou. O espaço cultural, que começou com a coleção particular da família que dá nome ao museu e gira em torno de um olhar especial para a arte contemporânea, é uma joia preciosa ainda não tão conhecida que deveria entrar no radar de todos os visitantes.
Instalado em uma casa acolhedora, com um adorável jardim, já recebeu exposição de trabalhos de Yayoi Kusama, Yoshitomo Nara, Jean-Michel Basquiat, Keith Haring e os brasileiros Paulo Nimer Pjota, Maria Nepomuceno e Solange Pessoa.
No quesito arte, também vale conhecer o Pérez Art Museum Miami, que é o museu oficial da cidade, tem uma bela coleção e exibe obras de Vik Muniz, Claudia Andujar, Marina Abramovi, Emanoel Araújo, Alfredo Jaar, Isaac Julien, Olafur Eliasson e Cecilia Vicuña.
Há também o Wynwood Walls, uma espécie de Beco do Batman da Flórida. Trata-se de um museu a céu aberto dedicado ao grafite, com artistas desde o japonês Tomokazu Matsuyama aos brasileiros Lelin Alves e Bicicleta Sem Freio, situado no bairro descolado de Wynwood, vizinhança repleta de arte de rua, bares e lojas de roupas de diversos cantos do mundo — caso da True, da Colômbia. A comparação com a Vila Madalena é inevitável.
Para quem quer ir às compras, a dica, além dos outlets, é dar uma volta no novo Distrito de Design, onde grifes renomadas como Balenciaga, Chanel, Dior, Gucci e Loewe vendem suas coleções em construções arquitetônicas que são um espetáculo à parte.
Espalhadas por praças e calçadas, obras como o edifício Ursa, projetado pelo escritório Arquitectonica, e o museu de esculturas Nader Sculpture Park foram inauguradas recentemente, em dezembro de 2024.
Mesmo com todas essas aberturas, a região de Miami que mais atrai investimentos financeiros é o bairro de Brickell. Na avenida principal homônima, há um empreendimento imobiliário em construção em quase todo quarteirão. Shoppings se consolidam como opção de lazer e bares e restaurantes abrem as portas.
Vale destacar o restaurante Claudie — prove o drinque claudie paloma, versão da casa para o clássico mexicano feito com flor de sabugueiro, acompanhado de carpaccio de salmão defumado — e o Felice, que serve massas deliciosas.
Nas proximidades, há o Sunny’s, especializado em costelas, e o Casadonna, conhecido pelos martínis. Há diferentes formas de cruzar a cidade, como ônibus, metrô, táxi e transporte por aplicativo. Ao optar pelo último, é comum se deparar com motoristas que falam apenas espanhol.
Em Brickell, há ainda o Metromover, espécie de monotrilho gratuito que circula pelo bairro, onde se encontra um chamariz da hotelaria: o Four Seasons Hotel Miami. Não é à toa que o escritor e diretor de televisão Mike White recorre a hotéis da rede como cenário de gravação das temporadas de The White Lotus — é mesmo maravilhoso.
Nesta unidade, obras de artistas como Fernando Botero geram um primeiro impacto nos hóspedes ao fazerem o check-in no lobby. A recepção cordial e calorosa dá sequência a uma experiência inesquecível, com decoração renovada em estilo moderno e as recém-inauguradas cabanas à beira da piscina (inspiradas na série), que vêm a calhar quando surgem as inesperadas chuvas, habituais na região, principalmente no verão.
O restaurante também tem novidades. Uma delas é o brunch de domingo, com uma seleção de queijos, sushis, costelas, macarons e mais. À noite, o jantar está sendo realizado por tempo limitado pelo Nuna, restaurante temporário do chef Jaime Pesa que, que combina culinária peruana moderna com técnicas japonesas.
São pratos como ostra ao molho cítrico de pimenta assada ou o arroz de coentro com pato (confit e empanado), foie gras, gema de ovo e cenoura glaceada. Os hóspedes ainda têm acesso à Equinox, academia de luxo das mais prestigiadas nos Estados Unidos. Em uma aula de ioga restauradora, uma surpresa: a professora americana Emilia Garth, que namora um brasileiro, falava português e até cantou um ponto de Iemanjá, revelando que há na cidade um terreiro de umbanda.
Cenário de produções como Miami Vice (2006) e Scarface (1983), o balneário está cada vez mais vibrante, envolto em uma combinação de arte, glamour e lazer. A sensação é de riqueza e exuberância cultural, não só de latinos de diferentes países como de todo o mundo. Já pode voltar?





