Por dentro do Palacete dos Artistas, residencial para artistas idosos em SP
Moradores acabam de encerrar sua maior produção teatral, mas buscam nova temporada

Há dez anos, desde dezembro de 2014, o prédio no número 613 da Avenida São João, que por cinco décadas sediou o Hotel Cineasta, funciona como lar para sessenta artistas idosos com renda entre um a três salários mínimos. Vem daí seu nome atual: Palacete dos Artistas.

“Não é um asilo ou uma casa de repouso, é um residencial”, faz questão de ressaltar o ator Miguel Bretas, 64. “A gente paga aluguel e condomínio, mas de forma mais acessível, para poder exercer o nosso ofício, algo importante nesta sociedade onde os artistas são tão marginalizados”, explica. Um dos moradores mais jovens do Palacete, ele é um dos cinco residentes que participa do grupo de apoio do prédio, dedicado a representar as demandas dos condôminos para a Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab-SP), responsável pela gestão do projeto — que é parte do programa de Locação Social da Secretaria Municipal de Habitação (Sehab). Para morar lá, é necessário ser cadastrado em entidades do setor, como o Sindicato dos Artistas.
O primeiro andar é reservado para as áreas de uso comum e inclui salas de ensaio, espaço para oficinas e uma sala para assistência social. Nos cinco pavimentos acima, estão distribuídos os cinquenta apartamentos. “Aqui é o sebo do Raimundão”, brinca Raimundo José, 82, morador do edifício desde que ele se tornou o Palacete. O cantor já dividiu o palco com ícones como Vanusa, Agnaldo Timóteo e Moacyr Franco e tem o apartamento recheado de CDs, DVDs e discos de vinil. “Foi um processo que gerou um entrosamento maravilhoso entre a gente”, diz, sobre o espetáculo teatral Nas Ondas do Rádio, uma produção dos moradores do edifício que homenageia os tempos glamourosos da rádio no Brasil.

Em 2025, a peça, contemplada pela 19ª edição do Prêmio Zé Renato, circulou pelo Teatro Cacilda Becker, Galeria Olido e Teatro Arthur Azevedo, três dos equipamentos culturais da prefeitura. Mas o grupo não quer parar por aí e batalha para conseguir verba para custear uma nova temporada. Outro projeto é transformar uma das salas de ensaio do edifício em um teatro para receber o público de fora. “Muitos de nós está na ativa e é um sentimento maravilhoso ver as pessoas restabelecerem o ânimo”, diz Miguel. Arte é vida.

Publicado em VEJA São Paulo de 25 de julho de 2025, edição nº 2954.