‘O Desaparecimento do Elefante’ confunde-se em comédia e drama
Quase trinta personagens entram em cena no espetáculo dirigido por Monique Gardenberg
Desde o épico Os Sete Afluentes do Rio Ota (2002), os espetáculos dirigidos por Monique Gardenberg ganham o palco cercados de expectativa. O apurado senso estético vem aliado a ricas possibilidades de interpretação. Foi assim com Baque (2005), Um Dia, no Verão (2007) e O Inverno da Luz Vermelha (2010).
Adaptação da própria Monique para os contos do japonês Haruki Murakami, O Desaparecimento do Elefante tem codireção de Michele Matalon e busca na fantasia uma saída menos indigesta para tratar da realidade.
+ Leia a crítica de Dirceu Alves Jr. no blog Na Plateia
O gênero confunde-se em comédia e drama nas cinco histórias levadas por nove atores. Eles são responsáveis por quase trinta personagens em permanente flerte com o absurdo, como uma mulher que não dorme há dezoito dias. As tramas parecem descoladas do cotidiano, mas a encenação se encarrega de aproximá-las.
Caco Ciocler e Marjorie Estiano sobressaem pela entrega e ousadia de se expor sem temer o ridículo. Primeiro e um dos melhores quadros, O Pássaro de Cordas e as Mulheres da Terça-Feira traz Ciocler na figura de um desempregado à procura do gato da mulher bem-sucedida (Maria Luisa Mendonça).
A presença curta e arrojada de Marjorie na narrativa é uma prévia da parte mais surpreendente, a hilária Segundo Ataque. Na pele de uma cosplay japonesa, ela contracena também com Ciocler — o marido marginalizado. Juntos, eles assaltam uma lanchonete. Não pelo dinheiro, mas em nome da fome insaciável (135 min; 12 anos).
Timaço: André Frateschi, Clarissa Kiste, Fernanda de Freitas, Kiko Mascarenhas, Maria Luisa Mendonça, Rafael Primot e Rodrigo Costa também integram o afinado elenco.
Apure os ouvidos: canções nas vozes de Gal, Caetano e Criolo pontuam o espetáculo.