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“Teremos mostras de nomes que questionam como a história do país é contada”, diz diretor da Pinacoteca

Jochen Volz fala sobre o elo entre as futuras exposições de Adriana Varejão, Dalton Paula e Ayrson Heráclito, além de comentar mudanças feitas em sua gestão

Por Tatiane de Assis Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 Maio 2024, 22h25 - Publicado em 18 fev 2022, 06h00
Jochen Volz é um homem branco, magro, de olhos azuis e cabelo grisalho. Ele aparece de camisa e blazer azuis em frente a um quadro colorido.
O gestor, nascido na Alemanha: o encantamento com a cidade segue. (Levi Fanan/Pinacoteca de São Paulo/Divulgação)
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O alemão Jochen Volz, 50 anos, é o diretor-geral da Pinacoteca desde maio de 2017 e tem sob sua responsabilidade pensar a programação do museu, um dos mais importantes do país, junto a um time de quatro curadores. Conhecido pelo tom afável e firme, ele é um antigo conhecido do circuito brasileiro. Já foi diretor artístico, entre 2005 e 2012, do Instituto Inhotim, em Minas Gerais, voltado à arte contemporânea.

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Em 2006, foi curador convidado da Bienal de São Paulo. Em 2016, voltou à mostra paulistana, mas com o cargo de curador-chefe. De sua sala, no prédio da Pinacoteca que fica no Largo General Osório, no Bom Retiro — a principal unidade do museu é na Praça da Luz —, ele falou sobre as exposições a ser realizadas em 2022, a criação de uma política de diversidade na instituição e o seu encantamento por São Paulo.

Sua sala tem dois janelões com vista ampla para a Estação da Luz e os arredores. Como é sua relação com São Paulo?

Desde a primeira vez que visitei a cidade, em 2002, me fascinei pela movimentação cultural, de pessoas. Esse encanto, mesmo com os diversos problemas sociais e econômicos, segue, porque também soluções vão sendo propostas pela sociedade. São Paulo se transforma espantosamente.

Com tamanha inserção no cenário internacional, o que faz você optar por continuar na cidade?

São vários momentos distintos. Quando saio do espaço de arte contemporânea Portikus, na Alemanha, e venho para a direção artística de Inhotim, minha motivação, além de profissional, é pessoal. Sou casado com a artista brasileira Rivane Neuenschwander, com quem tenho dois filhos. Depois, em 2012, sou convidado para ser coordenador de programação das Serpentine Galleries, em Londres. Fico por lá até 2015, quando venho para ser curador-chefe da 32ª Bienal de São Paulo. Entre muitas coisas, o que me chama a atenção no cenário daqui é a forte relação entre arte e vida (do artista). (Jochen também foi cocurador da Bienal de Veneza, na Itália, em 2009, e da primeira edição da Trienal Aichi, em Nagoya, Japão, em 2010).

Que pontos leva em consideração ao pensar nas atividades anuais da Pinacoteca?

Falamos muito da ideia de uma programação integrada, em que não necessariamente tudo é sobre um tema. Fazemos uma costura entre uma exposição e outra, o que facilita uma leitura. Isso pode ser percebido pelo público e, quem sabe, se torna um impulso inspirador. Neste momento, por exemplo, temos uma mostra em cartaz chamada A Máquina do Mundo. Ela olha para o começo da industrialização no Brasil e como esse processo tem modificado o fazer artístico. Não por acaso, também temos outra mostra, de um artista brasileiro que morou na Bélgica, Alvim Corrêa (1876-1910), que no mesmo momento histórico, o começo dos anos 1900, cria ilustrações para o livro A Guerra dos Mundos (1898), de H.G. Wells (1866-1946). Essa publicação pensa a invasão dos extraterrestres. O domínio das máquinas, de novo, aparece, entende? Apesar de serem muito distintas, essas exibições têm um ponto em comum, trazido pela industrialização, que é a mudança abrupta da sociedade e da paisagem urbana.

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E em 2022, quais são os diálogos que as exposições pretendem fazer?

Ao termos mostras de artistas como a carioca Adriana Varejão (março), o goiano Dalton Paula (agosto) e o baiano Ayrson Heráclito (outubro), temos três formas bastante distintas de olhar para o Brasil. E vindas de nomes que têm questionado muito como a história do país tem sido contada. É interessante pensar essa costura, considerando que, em 2022, se celebra o bicentenário da independência do Brasil e o centenário da Semana de 22.

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Como a Pinacoteca tem trabalhado o tema da diversidade em sua equipe?

Hoje, não há ainda uma política clara, mas há a consciência de que é preciso buscar a diversidade tanto de gênero quanto de raça e de orientação sexual na nossa equipe. A equidade feminina/masculina existe em quase todos os cargos de coordenação. Quanto à questão racial, estamos buscando cada vez mais (olhar para esse ponto). Com a contratação da Horrana (de Kássia Santoz), temos na equipe de curadoria uma curadora negra. Não é nada perto de onde queremos chegar. Contudo, temos quatro curadores, não podemos dizer que é uma equipe grande.

E nos próximos anos, há previsão de desenhar uma política clara de contratação que vise à diversidade? 

Claro, está no nosso programa.

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A artista paulistana Rosana Paulino teve uma mostra panorâmica na Pinacoteca, entre 2018 e 2019. Como você viu o anúncio de que ela participará da Bienal de Veneza, em 2022?

Com muita felicidade. Ela já havia participado de outras exposições da Pinacoteca, que o diretor anterior, o Tadeu Chiarelli, havia realizado. A Pinacoteca também adquiriu um dos trabalhos dela, o Parede da Memória (2015). A panorâmica que ela fez aqui foi resultado de um processo de afinidade entre a artista e a instituição.

Em sua gestão, de 2017 para cá, foram feitas alterações nos dois prédios, como a instalação de um loja na área externa da sede da Luz e a reforma da recepção na unidade do Largo General Osório. O que as motivou?

Foram mudanças que buscam tornar a instituição mais aberta, em contraposição a essa ideia de museu como um lugar fechado, exclusivo. De alguma forma, adiantam o espírito que vai estar presente na Pina Contemporânea (novo prédio da Pinacoteca, na área contígua ao Parque da Luz, que deve ser entregue em novembro de 2022).

Outra grande mudança foi a reformulação, em 2020, da mostra permanente, com o acréscimo de novas obras e o fim da cronologia na disposição das peças. Qual a importância desse gesto?

Foi um grande trabalho que fizemos nos últimos anos. Uma grande reflexão sobre qual história da arte brasileira nós queremos contar e qual história a gente não consegue contar, a partir do acervo. Nos perguntamos sobre que obras de artistas mulheres, negros e indígenas nós temos. Também abandonamos uma narrativa linear, cronológica. Hoje, temos obras de artistas do fim do século XIX, modernistas, do século XX e contemporâneos, todos em diálogo.

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Publicado em VEJA São Paulo de 23 de fevereiro de 2022, edição nº 2777

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