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Terrazas de los Andes, em Mendoza, produz alguns dos melhores vinhos da Argentina

Hospedar-se na vinícola, em Luján de Cuyo, proporciona uma imersão na moderna produção local e experiências como almoçar aos pés do Andes, em meio aos vinhedos

Por Fabio Codeço
Atualizado em 18 jul 2025, 19h19 - Publicado em 18 jul 2025, 08h00
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Paisagem do local no inverno (Terrazas de Los Andes/Divulgação)
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Fincada aos pés da Cordilheira dos Andes, Mendoza é a principal região vinícola da Argentina, responsável por 70% de toda a produção de vinhos do país. A proximidade com as montanhas influencia diretamente na qualidade da bebida ao combinar altitude elevada, clima seco e solos carregados de pedras, areia e cascalho — que exigem maior esforço das videiras para crescer, produzindo uvas menores, porém mais concentradas. O resultado são líquidos com muito aroma e sabor, boa acidez e potencial tânico acentuado nos tintos.

“Foi o local escolhido pelos imigrantes espanhóis e italianos para a prática da viticultura no século XIX, atraídos pela altitude. Com o tempo, aprendemos que, à medida que subimos mais em direção às montanhas, a temperatura cai, gerando um microclima ideal para as uvas, com uma amplitude térmica que permite seu amadurecimento completo. Aqui, cultivamos vinhos de montanha”, explica Lucas Löwi, CEO da Terrazas de los Andes, vinícola fundada em 1996 e que pertence ao portfólio do conglomerado de luxo francês LVMH (Moët Hennessy Louis Vuitton), dono também da Chandon, filhote do champanhe Möet & Chandon, inaugurada em 1959 na província de Agrelo.

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Local tem tour e degustações guiadas (Terrazas de Los Andes/Divulgação)

Na região de Luján de Cuyo, a 23 quilômetros do centro da cidade, a Terrazas de Los Andes permite conhecer de perto a produção de grandes malbecs — levada em meados do século XIX, antes de ser dizimada por uma praga na França, a casta se adaptou tão bem ao solo argentino que se tornou a uva-símbolo do país, que lhe deu fama mundial — mas também brancos, rosés, tintos feitos de pinot noir e cabernet sauvignon, syrah e um ótimo vinho de sobremesa da uva petit manseng. Quase toda a linha está disponível no Brasil.

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(Terrazas de Los Andes/Divulgação)

Mendocino, Löwi assumiu a marca depois de um tempo na Espanha, onde dirigiu a Bodega Numanthia, em Zamora, para operar uma pequena revolução. Seu projeto consiste em explorar os terrenos mais altos e se beneficiar de vantagens como a amplitude térmica mencionada por ele. “Trilhamos uma jornada ascendente, que começa em Las Compuertas, um vinhedo de malbec de 1929, a uma altitude de 1 070 metros acima do nível do mar, e culmina em El Espinillo, no Vale de Uco, a 1 650 metros, o mais alto em produção de toda a região”, conta o enólogo. É ali que se cultiva o rótulo mais icônico da marca, o Terrazas de Los Andes Extremo Malbec, cuja safra 2021, a primeira, recebeu os 100 pontos máximos do site especializado Jeb Dunnuck.

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Bodega centenária da Terrazas de Los Andes (Terrazas de Los Andes/Divulgação)

Uma boa maneira de conhecer as particularidades que cada altitude confere à bebida é fazer a degustação batizada de Viagem em Ascensão. Uma das quatro disponíveis (entre 115 e 420 reais), a experiência (a mais cara) inclui cinco varietais malbec, cada um feito a partir de parcelas de diferentes vinhedos. Quem visita a belíssima região montanhosa, pode nem se dar conta dos desafios impostos aos produtores. Desértica — chove em média somente 250 milímetros por ano, seis vezes menos que na cidade de São Paulo —, a região já não concede mais licenças para perfuração de poços de água.

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(Terrazas de Los Andes/Divulgação)

Os vinhos da Terrazas são fruto de um trabalho minucioso que envolve tecnologia e práticas ambientais como o sistema de irrigação por gotejamento de precisão — no lugar do tradicional método por alagamento — em que a equipe monitora de perto a quantidade de água demandada por cada planta. O sistema fez reduzir o consumo em 63%, um feito notável. A empresa, como outros produtores locais, também utiliza água de degelo das montanhas. E adota a viticultura regenerativa, que inclui práticas como manutenção de corredores biológicos (cultivo de espécies autóctones junto às vinhas) e adoção de caixas-ninho para atrair pássaros que ajudam a controlar, naturalmente, as pragas.

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Além de ótimos malbecs, Lucas também pretende produzir o melhor chardonnay do país, com a linha Grand Chardonnay, branco complexo, com notas cítricas e algo de baunilha, pelo estágio em barrica de carvalho, e aromas de ervas. “Fomos os primeiros a plantar essa uva no Vale de Uco”, afirma. Para quem busca uma experiência ainda mais imersiva, a Terrazas permite hospedar-se na própria vinícola, numa confortável guest house com apenas seis quartos, cercada por um gostoso jardim — só evite a época da colheita, entre fevereiro e abril, quando o movimento de caminhões transportando uvas para a vinificação é intenso. Com diárias a partir de 860 reais (o casal, com café da manhã), a estadia pode incluir experiências como piquenique, tour seguido de degustação e até almoços particulares na montanha, em meio aos vinhedos.

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Guest house permite dormir na vinícola (Terrazas de Los Andes/Divulgação)
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Imersão total: a guest house (Terrazas de Los Andes/Divulgação)
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Restaurante aberto ao público (Terrazas de Los Andes/Divulgação)
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A chef, Noelia Scquizziatto, faz empanadas impecáveis, além de se esmerar em preparos como uma autêntica parrilla argentina e outros pratos tradicionais, como o bolo de batata com ragu de carne. Mas não é preciso estar hospedado para provar de seu talento. A casa possui um restaurante aberto diariamente ao público em geral. E mais: todos os cômodos são decorados com uma exposição de artistas locais, sob curadoria de Daniel Augusto Rueda, que muda a cada seis meses. A poucos passos da guest house fica a bodega centenária da Terrazas. Construída em estilo espanhol em 1898 por Sotero Arizu, pioneiro da viticultura argentina, trata-se de um patrimônio arquitetônico de Mendoza. As visitas devem ser agendadas com antecedência.

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Chef Noelia no comando da parrilla (Terrazas de Los Andes/Divulgação)
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Experiências incluem almoço nas montanhas e piquenique (Terrazas de Los Andes/Divulgação)

Distante quinze quilômetros da Terrazas fica outro ícone argentino no mundo dos vinhos, e também pertencente ao grupo LVMH: o Cheval des Andes. Fruto de uma parceria com o icônico Château Cheval Blanc, um dos mais prestigiados vinhos de Bordeaux. O Cheval des Andes, apelidado pela empresa de “grand cru dos Andes”, em referência aos nobres tintos franceses, é feito com o mesmo cuidado, a partir do blend de malbec e cabernet sauvignon, podendo levar petit verdot para trazer equilíbrio, a depender do ano.

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Com forte potencial de guarda, requer três anos de produção até chegar ao mercado. Instalada numa belíssima porção de terra, a vinícola ainda não é aberta à visitação. Mas será, tão logo esteja pronta a nova bodega que está sendo construída com projeto arrojado do arquiteto italiano, radicado em Paris, Daniel Romeo, que prevê um teto verde sobre o qual será possível caminhar. Também estão nos planos um hotel com quatro quartos.

Com voos diretos de menos de quatro horas saindo de Guarulhos, Mendoza é um destino perfeito para apreciadores de vinho — e não só. Ainda que famosa pela bebida, pilar econômico ao lado de frutas e petróleo, a charmosa cidade fundada em 1561 merece a visita. É arborizada, recortada por avenidas largas e repleta de praças e parques — após um terremoto que a destruiu em 1861, construíram-se muitas áreas abertas para a população se abrigar durante os abalos.

Um passeio imperdível é o Parque San Martín, considerado o maior da América do Sul. Com uma área de 400 hectares — maior que o Central Park — tem lagos, áreas infantis e espaços para piqueniques e churrascos. Também ficam nos seus limites o Museu de Ciências Naturais e Antropológicas, o anfiteatro onde acontece a Festa da Colheita, o Estádio Provincial Malvinas Argentinas, a Universidade Nacional de Cuyo e até um clube de golfe. Outro atrativo é a gastronomia. Dos nove restaurantes cotados com uma estrela na edição argentina do Guia Michelin, seis estão em Mendoza, como o Azafrán. Vale ou não a viagem?

*O editor Fabio Codeço viajou a convite de Terrazas de Los Andes

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Publicado em VEJA São Paulo de 18 de julho de 2025, edição nº 2953

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