Ainda é quarta-feira e algumas barracas já estão montadas perto da entrada do Centro de Detenção Provisória de Osasco. Na sexta, a “favelinha”, como é chamado o acampamento, abriga cerca de trinta pessoas, todas do sexo feminino. São namoradas, mulheres e mães de detentos, que estão lá com a missão de ser as primeiras a entrar no dia de visita, no domingo. Esse movimento segue uma organização peculiar, independente de autoridades carcerárias, e tem até uma líder. É Agatha Santos, de 40 anos. Ela mantém um caderno no qual as visitantes anotam seu nome por ordem de chegada. “Quando as senhas são distribuídas, no sábado de manhã, quem aparece primeiro não precisa esperar a multidão passar por revista e ganha tempo com o amado”, explica. Não basta dar uma passada por lá no início da semana a fim de garantir o lugar. “É preciso ficar na fila para merecer a posição, se não vira bagunça”, diz ela, que não cobra nada pelo serviço, mas recebe “doações” das participantes. O trabalho começou há três anos, quando o marido de Agatha ficou detido ali. Hoje, ele está em uma unidade no interior, mas ela não deixou o local. Parte das barraquinhas “especializadas” que funcionam nos fins de semana, quando o lugar vira um formigueiro, é aberta nos dias úteis para atendê-las. Vende-se de água mineral (2 reais) a banhos rápidos (5 reais). Acampadas, as “guerreiras”, como chamam a si próprias, muitas na expectativa da visita íntima, sofrem de tudo: do frio intenso aos sapos e ratos que invadem a lona de madrugada. No sábado cedo, exaustas e descabeladas, com a senha na mão, voltam para casa a fim de oferecer o seu melhor no dia seguinte. “Fazemos cabelo, pé, mão, tudo para ficarmos lindas em respeito aos nossos homens”, diz Ana Miranda, de 18 anos, cujo marido está preso há nove meses por assalto. Nessa irmandade, amantes não têm vez. Se alguma das “titulares” falta e uma “periguete” aparece, é briga na certa.
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