O que pode ser mais excludente do que viver dentro de um sistema no qual há pessoas que já estão à parte da sociedade? Noel Pereira, 33 anos, responde: “Ser o único homossexual assumido da cadeia é o pior dos infernos”. Ex-ajudante de supermercado, ele conta ter sido viciado em crack dos 25 até ser preso, há quase dois anos, ao participar do assalto a um ônibus. Na época, morava na rua, fazia pequenos furtos e chegou a se prostituir. “O crack já era uma prisão sem muros”, resigna-se. “Pela opção sexual, apesar de não ter nenhuma doença, era impedido de tocar em talheres de uso comum”, diz. “Uma vez, quando fui comer a lasanha que minha mãe tinha me mandado, acharam que eu estava com uma faca dos outros e só não me bateram porque mostrei que era meu o objeto.” Em outra ocasião, conta, chegou a apanhar de fato, após ser pego entre intimidades sob a coberta com um companheiro de cela “heterossexual”. Longe do vício, afirma que tem se virado com os 80 reais que ganha por dia quando faz bicos de auxiliar de pintor.
+ Presos experimentam o primeiro dia de liberdade