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‘Ele foi vítima da falta de direitos do deficiente’, diz viúva de cego

André Herculano dos Santos morreu na noite de domingo ao cair nos trilhos da Estação Sé. No fim do ano passado, Metrô rompeu contrato com empresa que instalaria portas de segurança após problemas

Por Nataly Costa
Atualizado em 5 dez 2016, 12h36 - Publicado em 14 abr 2015, 20h31

André Herculano dos Santos, de 35 anos, tinha uma rotina parecida com a de muitos paulistas que se dividem entre o interior e a capital por causa do trabalho. Pegava um ônibus aos domingos em sua cidade, Santa Bárbara D’Oeste -cerca de 140 quilômetros distante de São Paulo-, e descia na Rodoviária do Tietê. De lá, seguia de metrô até a Estação Sé, fazia uma baldeação e terminava a jornada na Estação Marechal Deodoro. Seu endereço paulistano era o bairro de Higienópolis. Na noite do último domingo (12), ele morreu ao cair da plataforma da Sé por volta das 21h45.

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Santos era cego desde os cinco anos de idade. A deficiência não o impediu de fazer duas faculdades: Pedagogia e Análise de Sistemas. Com a primeira, conseguiu atuar como professor em centros especializados para cegos e em universidades, a Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) entre elas. A segunda formação lhe garantiu um emprego na Vivo, empresa na qual atuava desde 2010.

“Ele era muito independente, mas extremamente cauteloso. Fazia esse trajeto duas vezes por semana e usava transporte público para ir ao trabalho diariamente. O André foi vítima justamente da falta de acessibilidade e dos direitos dos deficientes”, afirma a costureira Elizena Teixeira, de 45 anos, sua esposa há nove. O casal não teve filhos, mas Santos ajudou a criar a menina e o menino (de 26 e 15 anos) do casamento anterior de Elizena.

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Além de analista de sistemas e professor, Santos era escritor com três livros publicados: Um passo para compreender, Repensar: o pensar e o agir e Reflexões de um educador, esse último de poesia. Seu hobby era lutar capoeira. “Foi uma tragédia. Agora, estou tentando sobreviver”, diz Elizena.

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Investigação

A Polícia Civil instaurou um inquérito para apurar se a morte do analista de sistemas não teria sido homicídio -até agora, porém, as evidências apontam para um acidente. De acordo com relatos e imagens do circuito interno, Santos entrou na Estação Portuguesa-Tietê da Linha 1-Azul acompanhado por um homem e não solicitou ajuda a nenhum funcionário. Na Luz, o acompanhante se despediu do analista, que continou a viagem sozinho até a Sé.

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Ao fazer a baldeação e chegar à Linha 3-Vermelha, ele apressou o passo para alcançar o trem. Na plataforma, usou a bengala para se certificar que a composição estava lá. Confundiu o espaço entre dois vagões com as portas abertas e avançou. Na verdade, as portas já estavam fechadas e o trem pronto para partir. No boletim de ocorrência, consta que ele foi atropelado.

O Metrô afirma que acompanha todos os deficientes que entram no sistema sozinhos ou os que, mesmo com alguém ao lado, solicitam ajuda. O deficiente pode, no entanto, recusar a assistência.

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Portas de proteção

Questionado sobre a necessidade de instalação de portas de proteção nas plataformas, a exemplo da Linha 4-Amarela, o Metrô afirma que havia planos para a instalação do equipamente, mas problemas com a empresa que prestaria o serviço levaram ao rompimento do contrato. As portas chegaram a ser instaladas na Estação Vila Matilde da Linha 3-Vermelha, mas jamais funcionaram a contento – continuam lá, mas só operam no fim de semana. Outras doze paradas (incluindo a Sé) também receberiam a tecnologia antes do rompimento entre a empresa e o governo, no final do ano passado.

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