Moradores contestam aumento do preço dos condomínios
Paulistanos se mobilizam na tentativa de baratear os custos
A advogada Tatiana Parisotto, de 39 anos, comprou em 2010 um apartamento ainda na planta, no Morumbi, com dois quartos e 63 metros quadrados. No começo de 2013, com as obras quase finalizadas, compareceu à primeira reunião de moradores do edifício e tomou um susto ao descobrir o valor previsto para o condomínio: 660 reais. “Na época da compra do imóvel, a expectativa era uma despesa de, no máximo, 400 reais”, lembra.
+ Projeto de lei pode legalizar comida de rua
A alegria da mudança logo se transformou em revolta. Vários outros proprietários também se indignaram com o valor. “Resolvi me envolver na questão e tentar baratear a taxa”, conta Tatiana. Depois de cinco meses ao lado da calculadora e com a ajuda da futura vizinha Giselle Rongetti, encontrou uma solução. “Renegociei com algumas prestadoras de serviços e diminuí o orçamento da jardinagem.” O resultado: um desconto de 120 reais no boleto mensal. “Eu me empolguei com a coisa e, agora, vou me candidatar ao cargo de síndica”, planeja Tatiana.
Situações parecidas estão ocorrendo com bastante frequência na metrópole. A mobilização de moradores representa uma das melhores formas de combater o problema. Segundo pesquisa recente da administradora Lello, as taxas de condomínio tiveram aumento nos últimos anos acima da inflação.
Na faixa de preço entre 501 e 1 000 reais, elas subiram 39% entre 2009 e 2013, contra 26% de alta da inflação no período, medida pelo IPCA (veja o quadro ao lado). “Comecei a procurar outro apartamento, pois não acho justo desembolsar 650 reais mensais em um prédio que não oferece nem mesmo vagas na garagem a todos os moradores”, reclama o advogado Alexis Simão, morador do Edifício Flan, em Santa Cecília, cujo condomínio vai sofrer um novo reajuste nos próximos meses. “Entendo que as contas precisam fechar, mas não posso assumir os prejuízos.”
A 13 quilômetros dali, no Tucuruvi, o problema assumiu outros contornos. “O pessoal daqui queria evitar os aumentos a qualquer custo e, como consequência, as áreas comuns começaram a ficar descuidadas. Isso desvaloriza nosso patrimônio”, entende a advogada Cláudia Anunciato. Depois de algumas discussões acaloradas, em abril foi aprovado o (inevitável) reajuste: de 380 para 450 reais.
“Vamos conseguir agora corrigir questões estruturais, como vazamentos, e até incrementar as áreas de lazer: comprei novos itens para o playground e vou também contratar um piscineiro”, comemora a síndica Tatiane Coraci, que antes contava com a ajuda do zelador para cuidar da piscina.
De acordo com especialistas no assunto, o custo da mão de obra é um dos fatores que estão pesando na conta. “Boa parte do aumento pode ser explicada pelas conquistas sindicais dos funcionários do ramo”, diz Sergio de Castro Neto, diretor de Condomínios do Sindicato da Habitação do Estado de São Paulo (Secovi-SP).
+ Arquitetura e decoração no blog Morar em SP
Em outubro do ano passado, a categoria conseguiu um reajuste salarial de 8%, além do direito de receber um vale-refeição de, no mínimo, 5 reais por dia. “Está cada vez mais difícil manter os empregados. Muitos deles preferem migrar para a construção civil, que paga melhor. Assim, é importante oferecer benefícios e remuneração atraentes”, afirma Márcia Romão, gerente da Lello.
Além das despesas com os funcioná-rios, outra causa importante da alta é o crescimento da oferta de serviços. Em prédios de melhor padrão, os valores do condomínio costumam ultrapassar, e muito, a faixa dos 1 000 reais. No The Stage, em Moema, a taxa mensal beira os 3 000 reais. Lá, os moradores contam com espaço gourmet, home cinema, piscina aquecida e hidromassagem. Tudo isso, claro, tem um preço.
“Ao lado da manutenção, estou sempre preocupado em garantir a segurança dos moradores, o que também é caro”, explica o síndico profissional Márcio Rachkorsky, que cuida ainda de 27 edifícios. A decisão de recrutar administradores tem sido cada vez mais frequente.
“É raro encontrar moradores que se candidatem a síndico. É uma função que demanda muito tempo, e o exercício do cargo costuma provocar atrito com os vizinhos”, conta Rachkorsky, que cobra 3% da arrecadação total do condomínio pelo serviço. Em tempos de inflação, o trabalho de profissionais como ele ficou ainda mais complicado.
Para tentar reduzir as despesas, Rachkorsky recomenda algumas providências, como evitar que os funcionários façam horas extras, investir em sistemas para cobrança individual de água e gerar receitas, como alugar o topo da construção para a colocação de antenas de telefonia celular. O endurecimento no combate aos inadimplentes entra igualmente na lista. Em abril, foram registradas 992 ações na cidade de São Paulo para a cobrança de dívidas de condomínio, contra 784 em março.