Motoristas protestam contra Uber em meio a onda de assaltos
Foram registradas ao menos quinze ocorrências de violência contra profissionais do aplicativo desde julho
Na madrugada de 29 de agosto, um motorista do Uber pegou um passageiro na Zona Norte e, ao chegar ao endereço de destino, um campo de futebol na Brasilândia, foi rendido pelo suposto “cliente”. No momento em que era amarrado, surpreendeu-se ao encontrar um colega de profissão sofrendo sequestro-relâmpago no local. Ambos foram liberados depois de os bandidos limparem suas contas bancárias em caixas eletrônicos.
Dois dias mais tarde, outro condutor foi assaltado no mesmo bairro. “No fim da corrida, dois homens me aguardavam na calçada e apontaram armas”, diz o profissional, que pediu para não ser identificado. “Levaram tudo do meu carro, até as balinhas disponíveis para os fregueses. Achei que fossem me matar”, conta. No último dia 22, a categoria sofreu mais um choque pelo assassinato de Osvaldo Modolo Filho, roubado por um casal de passageiros na favela de Heliópolis, na Zona Sul.
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Os casos ilustram a escalada de violência contra profissionais do aplicativo. Pelo menos quinze ocorrências do gênero foram registradas na capital desde julho, quando a empresa de transporte individual começou a oferecer a opção de pagamento em dinheiro, e não apenas com cartão. A Polícia Civil informa que prendeu quatro pessoas até agora por causa desse tipo de ataque.
Assustados, os profissionais passaram a se reunir em grupos de WhatsApp, como “Uber Gladiadores” e “Uber Night”, para traçar estratégias de segurança nas ruas. Algumas delas envolvem o uso de códigos e emoticons para alertar os companheiros a respeito de situações de risco. Vários também compartilham sua posição, em tempo real, pelo aplicativo de geolocalização Life 360, trocam informações sobre áreas perigosas e organizam protestos, como o buzinaço do último dia 23, na Praça Charles Miller, no Pacaembu.
Uma nova paralisação está prevista para este domingo, 2, como forma de pressionar a empresa por mudanças. “Queremos que o Uber torne o cadastro mais rígido para quem paga em dinheiro”, diz Alexandre Caetano de Araújo, um dos administradores dos grupos.
Reivindicações trabalhistas reforçam a mobilização. O Ministério Público do Trabalho abriu dois inquéritos desde junho para investigar oito denúncias de desrespeito à legislação por parte da multinacional. “Há precariedades como o excesso de horas e a inexistência de férias”, afirma o procurador Rodrigo Carelli. Por meio de nota, o Uber declarou que monitora as corridas e disponibiliza um telefone de emergência para os motoristas. Além disso, sustenta que seu modelo de negócio não configura nenhum vínculo empregatício.