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Quadro chumbado na parede e outras dificuldades da reforma do Museu do Ipiranga

A impossibilidade de remover a colossal obra de Pedro Américo é apenas um dos problemas da restauração, que será mais complexa e custosa do que se imaginava

Por Catharina Nakashima
Atualizado em 1 jun 2017, 17h21 - Publicado em 9 Maio 2014, 18h57
Museu do Ipiranga
Museu do Ipiranga (Lucas Lima/)
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Uma pedra com 8,43 metros de largura por 5,03 de altura entrou no caminho da reforma do Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga, interditado sob risco de desabamento em agosto de 2013. A tela Independência ou Morte, pintada em 1888 por Pedro Américo, não pode deixar o salão nobre. Além de estar chumbada na parede desde 1895, ela não passaria por nenhuma porta do lugar mesmo que sua moldura fosse retirada. Sabia-se que esse manejo não seria fácil, mas agora a única solução encontrada é protegê-la com uma redoma de metal, com aberturas que viabilizem sua higienização e vistoria, enquanto os operários atuam no entorno.

 

Passados nove meses do fechamentodo museu, a Universidade de São Paulo, responsável pela instituição, está às voltas com esses e outros desafios no processo de restauração. “A operação terá de ser mais cara e complicada do que se imaginava”, afirma o vice-reitor da USP, Vahan Agopyan, designado para supervisionar os trabalhos. O custo previsto pela gestão anterior, de 21 milhões de reais, acabou sendo descartado. Uma avaliação minuciosa, que ficará pronta em dois meses, determinará o novo orçamento.

Museu do Ipiranga
Museu do Ipiranga ()

Inicialmente, o plano era revitalizar a fachada e resolver problemas visíveis que levaram à decisão de suspender a visitação, como o perigo de o forro de duas salas no 1º andar despencar. A diretriz agora é submeter toda a estruturade paredes, lajes e pilares a uma técnica semelhante a um raio-X que possibilitará descobrir falhas camufladas. Além disso, Agopyan e o atual reitor, Marco Antonio Zago, querem aproveitar para implementar um “novo modelo museológico”, com acessibilidade adequada, café, loja e um anexo para administração e acervo não exposto.

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Museu do Ipiranga
Museu do Ipiranga ()

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Hoje, o teto de seis ambientes está escorado para evitar acidentes com queda de revestimentos, assim como as portas laterais externas permanecem cobertas por toldos. Para diminuir as infiltrações, a claraboia central é mantida tampada e o piso de ladrilhos importados da Europa no século XIX recebeu uma camada de rejunte. Só as equipes da biblioteca e de documentação ainda trabalham no edifício. Até o fim do ano, o acervo composto de cerca de 100 000 livros, 40 000 papéis e manuscritos e outros 10 000 itens, inclusive objetos que pertenceram à família real, deverá ser removido. Três galpões no bairro do Ipiranga foram alugados e equipados com ar-condicionado, desumidificador e iluminação para receber a coleção. Mais três espaços na Zona Sul terão o mesmo propósito. A professora Sheila Walbe Ornstein, diretora do museu, mantém a localização sob sigilo, por questão de segurança.

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Além do quadro de Pedro Américo, duas esculturas de mármore de Carrara do italiano Luigi Brizzolara e uma maquete de São Paulo de gesso realizada pelo holandês Henrique Bakkenist continuarão lá. As primeiras, pesadíssimas, estão localizadas nas entradas do prédio, retratam os bandeirantes Antônio Raposo Tavares e Fernão Dias Paes Leme e medem 3,7 metros de altura. A miniatura da metrópole, de 6 por 5,1 metros de área, foi feita entre 1920 e 1922 dentro da galeria da ala oeste, onde está instalada.

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A atual cúpula da USP afirma que, apesar da complexidade da restauração, o prazo de reinauguração do museu continua mantido para 2022. Além de definir o valor que a operação vai despender, será preciso captá-lo com parceiros. Em dificuldades financeiras, a USP revelou recentemente que a situação é grave em seus cofres: a folha de pagamentos corresponde a 105% da receita total. Uma das alternativas de captação deve ser a Lei Rouanet, mas uma campanha para sensibilizar a sociedade e conseguir doações diretas também será organizada. “Tenho um carinho especial por esse museu, o primeiro que visitei quando criança”, diz o vice-reitor. O sentimento é o mesmo para milhões de paulistanos, que esperam por avanços no trabalho para consertar os estragos provocados por décadas de abandono.

RESTAURAÇÃO IMPERIAL

O gigantismo da operação para salvar o lugar

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› 150 000 é o número aproximado de itens que compõem o acervo

› 6 salas do museu estão atualmente escoradas para evitar acidentes com queda de revestimentos

› 8,43 por 5,03 metros são as dimensões da tela Independência ou Morte

› 21 milhões de reais era o custo previsto para a reforma em 2013. O novo valor ainda não está definido

› 2022 é o prazo para a reabertura da instituição, que foi mantido pela nova reitoria da USP

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