Sargento da PM soma mais de 90 000 fãs no Facebook
Graças à fama na internet, Francisco Alexandre Filho cria cursos para os aspirantes a entrar na tropa

Em frente a um prédio de três andares no bairro Jardim São Paulo, um grupo de cinquenta pessoas entre 17 e 28 anos circula em fileiras na rua, quase em marcha militar. Esses “recrutas” também se dividem em salas de aula dentro do mesmo edifício com o nome de 1ª e 2ª Companhia e recebem tratamento linha-dura de quartel. Apesar das regras rígidas, como a que exige o uso de uniforme, eles ainda não passam de estudantes de um curso preparatório para ingressar na Polícia Militar de São Paulo. A corporação abriu concurso para preencher 2 000 vagas na cidade (com salário inicial de 2 900 reais). As provas serão realizadas em julho. Batizado de Nasci para Ser Polícia, o vestibulinho da Zona Norte foi criado em abril com um investimento de 50 000 reais e cobra 1 000 reais por três meses de aulas.
+ Promotores tentam enquadrar pais de funkeiros por exploração de menores
Trata-se de uma iniciativa do sargento Francisco Alexandre Filho, de 45 anos. Com mais de duas décadas de carreira na corporação, ali ele é o comandante- geral e o ídolo de um pelotão recrutado principalmente na internet. É o primeiro negócio montado pelo policial a partir de seu sucesso nas redes sociais. Ele possui cerca de 92 000 fãs no Facebook, o que o torna o líder da lista de soldados da PM da metrópole com mais admiradores no site. A página pessoal, criada em abril de 2014, divulga a rotina de seu trabalho na patrulha da 2ª Companhia do 18º Batalhão, no Jaraguá, na Zona Norte. Fotos de abordagem de suspeitos e poses com cara de mau, acompanhadas de palavras de ordem contra bailes funk nas ruas, dividem espaço com imagens de cachorros, crianças e moradores que convidam o sargento para o almoço ou pedem para fazer selfie. Os elogios sobre sua atuação se multiplicam nos comentários.

Além de carregar na cintura uma pistola .40 Taurus, algema e spray de pimenta, a webcelebridade agora leva no peito uma GoPro. Outra câmera do tipo é instalada no para-brisa da viatura. E, claro, ele está sempre munido de dois smartphones para fazer a transmissão em tempo real de suas atividades, como se o seu trabalho fosse um reality show. “Consegui transformar a figura opressora do policial em outra que ficasse mais próxima das pessoas. Sinto agora que tenho um trabalho admirado”, orgulha-se o sargento. Sua página recebe também denúncias, elogios e pedidos de conselho de como se tornar um soldado da PM. “Daí a ideia de montar o curso”, justifica.
+ Justiça determina suspensão do aplicativo Uber
Nascido em uma favela do Recife, em Pernambuco, Alexandre chegou a São Paulo com 15 anos. Prestou o serviço militar obrigatório na Marinha e, aos 19, entrou para a PM da capital. Passou pelo Batalhão de Choque, pela Força Tática e pelo Copom. Ao longo da carreira, seu nome esteve envolvido em dois processos referentes a ações de grupos de PMs: um de tortura de presos e outro por execução de supostos bandidos, ambos em 2002. Nessa época, ele atuava no Grupo de Repressão e Análise dos Delitos de Intolerância (Gradi). Nos dois casos, foi inocentado em julgamentos de primeira instância. O Ministério Público está recorrendo das decisões.
A promotoria tem acompanhado com atenção o sucesso de perfis como o do sargento no Facebook. “Alguns ficam numa linha muito tênue que separa a exposição da incitação à violência policial”, critica o promotor Alfonso Preste. A PM não impede que seus integrantes criem páginas pessoais, mas diz que a responsabilidade pelo conteúdo é inteiramente de cada um deles. Alexandre não é o único policial da cidade que está ganhando notoriedade nas redes sociais. O segundo no ranking de popularidade, com 73 000 fãs, é o sargento Luciano Galesco, da Força Tática, palestrante recorrente no curso criado pelo sargento Alexandre. “Tem garoto que não gosta de futebol, gosta de polícia”, diz Galesco, que faz o tipo policial durão. Em sua página, são comuns fotos de armas e frases como “Na madrugada, ladrão sai da toca e nós o caçamos”.
A própria Polícia Militar tem usado a ferramenta. No último ano, o número de fãs de sua página oficial saltou de 30 000 para mais de 580 000. Muitos enviam fotos para aparecer no perfil da corporação. Uma equipe de quatro pessoas fica responsável somente pela publicação do conteúdo. “As redes sociais resgataram o lado humano dos policiais e a autoestima do profissional”, afirma o capitão Emerson Massera, porta-voz da PM.