Cinco motivos para não perder “Bom Retiro 958 Metros”
Circular por espaços alternativos e ver figurinos criados por Marcelo Sommer são alguns dos atrativos do novo espetáculo do Teatro da Vertigem
No ano em que completa 20 anos de história, a companhia Teatro da Vertigem convida o público a caminhar pelas ruas do Bom Retiro, na região central da cidade. Mas não espere assistir a um resumo da história do bairro. A trama de “Bom Retiro 958 Metros” questiona temas atuais como as relações de trabalho e o consumismo.
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A peça, dirigida por Antônio Araújo, não é a primeira a ser encenada pela companhia fora de um palco convencional. Uma igreja, um hospital, um presídio, o alto de um edifício da Avenida Paulista e até o rio Tietê já serviram de cenário para as intervenções do grupo.
Confira abaixo cinco motivos para ver a peça, em cartaz até 30 de setembro.
Explorar o Bom Retiro à noite
O bairro, que se tornou um forte pólo comercial da indústria têxtil, tem uma vida diurna bem agitada. Mas é no silêncio da noite que o Teatro da Vertigem apresenta o seu espetáculo. Por cerca de um quilômetro, o grupo, formado por quinze atores, narra os medos e anseios de personagens como uma consumidora apaixonada por um vestido vermelho, uma noiva desmemoriada, um mendigo viciado em crack, uma manequim à procura de emprego, uma faxineira e uma costureira boliviana.
Espaços improváveis
Em “Bom Retiro 958 Metros”, andar é preciso. Por isso, é aconselhável calçar sapatos confortáveis para encarar os caminhos propostos pela companhia. O público percorrerá corredores de um shopping de verdade, assistirá a um debochado desfile de moda no meio do cruzamento das ruas José Paulino e Ribeiro Lima, e verá personagens em cima de muros e em fachadas de lojas. O local escolhido para encerrar a peça também surpreende, mas não vamos descrevê-lo para não estragar a surpresa no fim da história.
Fique ligado no musical
As atrizes Mawusi Tulani e Sofia Boito, nos papéis de uma faxineira do shopping e de uma manequim de loja, respectivamente, são as responsáveis pela cena mais tragicômica do espetáculo. Na cena, a boneca almeja uma vaga de emprego em um estabelecimento coreano, mas a faxineira aconselha a “menina” a desistir da ideia.
Figurinos de Marcelo Sommer
As roupas dos quinze atores são assinadas pelo estilista, que ao longo de seus 22 anos de carreira já criou peças para Preta Gil, Ivete Sangalo, Skank e Arnaldo Antunes, além de apresentar coleções na São Paulo Fashion Week. Esta é a segunda vez que Marcelo Sommer faz parceria com uma companhia teatral – a primeira foi há dez anos, na peça “O Boteco”. “O teatro me permite usar materiais que eu não usaria em coleções usuais, como sacos de lixo e páginas de revistas”, diz o estilista, que recebeu o convite do Vertigem em 2011. Foram criados cerca de 80 looks, reunindo os figurinos do coro, personagens principais e até os manequins que ganham vida. “Achei o processo doloroso, mas muito gratificante.”
Jogo de luzes
Repare na iluminação criada pelo premiado Guilherme Bonfanti, cofundador do Teatro da Vertigem com Antônio Araújo. “Não queria colocar refletores nas cenas de rua, porque não fazia sentido não usar a luz urbana no espetáculo. Pensei, então, em como tirar partido disso”, diz Bonfanti. O resultado, estudado por mais de um ano, pode ser visto em projeções de imagens e mecanismos manuais para colorir, abrir foco e fechar completamente a luz dos postes públicos. Às vezes, surge a impressão de que o espectador está, realmente, dentro de um teatro, tamanho o controle dos jogos de luzes.