O site São Paulo Abandonada & Antiga registra o descaso com a cidade
Fotógrafo e historiadora colocam na internet 210 imagens de imóveis mal preservados
Existem centenas de imóveis e terrenos largados ao deus-dará no Brás e no Ipiranga. Essa é uma das conclusões mais relevantes do trabalho do fotógrafo Douglas Nascimento e da historiadora Glaucia Garcia de Carvalho. Desde 25 de janeiro de 2009, os dois publicam os resultados de suas andanças pela capital no site São Paulo Abandonada & Antiga. São 210 imagens de casarões e fábricas localizados em quarenta bairros paulistanos, que chamam atenção pelo estado de conservação lastimável — há outras 600 na fila para publicação, que segue ao ritmo de dez fotos por semana. Eles juram não ter objetivos comerciais. “Quero ajudar a preservar a memória dessa cidade em constante mutação, como fez o fotógrafo Militão Augusto de Azevedo na virada do século XIX para o XX”, diz Nascimento. “Os imóveis de São Paulo têm muita história, mas não sabemos conservá-la”, completa sua sócia.
Nascimento sai a campo quase todo domingo, mas algumas denúncias vêm dos cerca de 1 500 internautas que visitam o site diariamente. Foi assim, por exemplo, que a Secretaria Municipal de Cultura tomou conhecimento (e ordenou a limpeza) de uma pichação na Fonte Monumental, na Praça Júlio de Mesquita, no centro. Glaucia, por sua vez, percorre arquivos e cartórios em busca dos nomes dos proprietários. Chegou a aproveitar o Dia de Finados para ir ao cemitério da Consolação à procura de descendentes do dono de um terreno na Brigadeiro Luís Antônio. Encontrou uma senhora que lhe relatou a história de sua família, construtora de uma vila de operários na avenida. “As pessoas gostam de contar como seus parentes ajudaram a capital a prosperar.” Inspirado em páginas similares dedicadas à memória arquitetônica de Lisboa e Buenos Aires, o site cobre também Guarulhos, Itapecerica da Serra e Botucatu.
Para a arquiteta Denise Xavier, professora do Centro Universitário Belas Artes e autora do livro Arquitetura Metropolitana, o São Paulo Abandonada & Antiga pode apontar caminhos para a recuperação desses imóveis. “As pessoas estão se dando conta da importância do patrimônio”, afirma. O arquiteto Marcos L. Rosa, doutorando da Universidade Técnica de Munique com uma tese sobre São Paulo, indica uma maneira. “Em Berlim, um projeto transforma casas desocupadas em bares, galerias de arte ou espaços de festa até que os donos lhes deem novo destino”, diz. “Assim, a cidade consegue se manter viva.”
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