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Professor ensina a tocar igual aos Beatles

Durante as aulas, Beto Iannicelli costuma contar a história das canções e várias curiosidades da época em que elas foram escritas

Por Bruna Gomes
Atualizado em 5 dez 2016, 18h31 - Publicado em 22 out 2010, 21h59

Beto Iannicelli, 53 anos, lembra-se da primeira música que “tocou”: ‘It Won’t Be Long’, do álbum ‘With The Beatles’, de 1963, o segundo da banda de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr. “Comecei me apresentando com vassouras”, conta. “Eu, minha irmã e nossos dois melhores amigos nos sentíamos os próprios Beatles.” Na imaginação das crianças, caixas de papelão, tampas de panela e pufes viravam uma imponente bateria. Vassouras transformavam-se em guitarras e baixos. Enquanto as músicas rolavam no LP, a turma balançava a cabeça como os reis do iê-iê-iê.

Alimentar o desejo insaciável pelas novas composições do grupo não era tarefa fácil. Além de esperarem a chegada dos discos ao Brasil, os pequenos dependiam dos pais para comprá-los. O colega de turma que conseguisse um álbum sediava as reuniões para que todos pudessem ouvi-lo. “Quando lançaram ‘Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band’, em 1967, estávamos jogando bola e vimos um de nossos amiguinhos berrando desesperado: ‘Saiu! Saiu!’.” Imediatamente, todos foram à casa dele para ouvir. Com camiseta, calção e chuteiras nos pés.

O garoto que amava os Beatles — e mal sabia da existência dos Rolling Stones — cresceu e a música continuou a fazer parte de sua vida. Em 1973, aos 16 anos, conseguiu o diploma em violão erudito pelo Conservatório Musical Jardim São Paulo, em Santana. Estudou guitarra e se especializou em MPB, jazz, harmonia e improvisação. Quatro anos depois, formou-se em composição e regência. Criou e liderou a banda Fab Revival — The Beatles Cover. Em 2001, montou o curso Complete Beatles Songs, no qual ensina detalhadamente o modo de tocar de John, Paul e George — apesar de dar algumas dicas relacionadas ao trabalho de Ringo, a bateria fica fora da programação.

“Estava um pouco cansado de dar aula de instrumento”, afirma. “Resolvi então ensinar aquilo de que mais gosto e com que convivo desde que me entendo por gente.” Virou professor de como ser um beatle. Iannicelli garante que, de lá para cá, está com seus horários todos tomados. Tanto que nem tem mais tempo de se apresentar.

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Não são só participantes de bandas cover que curtem as aulas de Iannicelli. O designer gráfico Nicolau Figueiredo faz o curso há sete anos. Toca guitarra, baixo, violão e piano. “Tive contato com vários professores e nunca havia conseguido aprender a ler partitura”, conta. “Com as músicas de que eu gostava ficou bem mais fácil.”

Aluno há quatro anos, o arquiteto Ricardo Martos aponta o perfeccionismo de Iannicelli: “Uma coisa é tocar as músicas com as notas certas, outra é conseguir a mesma sonoridade dos Beatles”. Mas há, claro, quem se esmere em mimetizar os trejeitos dos garotos de Liverpool. Para isso, o professor indica filmes como ‘Help!’ e ‘A Hard Day’s Night’.

“Ele me orientou na hora de escolher os outros integrantes do grupo”, diz André Dias, professor de guitarra e líder da banda cover The Beatles Alive, na qual faz o papel de George Harrison. Durante as aulas, Iannicelli costuma contar a história das canções e várias curiosidades da época em que elas foram escritas. Na parte prática, ensina até a reproduzir os erros registrados nas gravações originais.

Colecionador, Iannicelli orgulha- se de apresentar a seus pupilos alguns itens que reuniu ao longo dos anos. “Tenho muito carinho pelo álbum de figurinhas com fotinhos dos Beatles, de 1965”, diz. “Meu pai precisou ligar para a editora e pedir os cromos que estavam faltando. Ainda guardo várias figurinhas repetidas.”

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