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Como São Paulo se prepara para conter o avanço da varíola dos macacos

Estado, município e hospitais privados estão em alerta; saiba quais medidas estão sendo tomadas

Por Clayton Freitas
5 ago 2022, 06h00
Demanda: Emílio Ribas tem recebido média de quarenta casos suspeitos por dia
Demanda: Emílio Ribas tem recebido média de quarenta casos suspeitos por dia (Secretaria Estadual de Saúde/Divulgação)
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Doença que teve o primeiro caso confirmado no Brasil no dia 9 de junho na cidade de São Paulo, a varíola dos macacos evoluiu rapidamente na capital, que já conta com 64,2% dos registros de todo o país (879 dos 1 369 até o dia 2 deste mês). A situação levou autoridades de saúde, hospitais privados, redes de laboratório e escolas a reforçarem a vigilância ante a esse novo desafio e a adotar medidas.

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Entre elas está a criação de protocolos para atendimento de casos suspeitos, que incluem o uso de equipamentos individuais de proteção semelhantes aos usados no início da pandemia do novo coronavírus; disponibilização de material para coletas de exames em todas as unidades de saúde da capital; alerta para que professores e funcionários olhem com atenção eventuais feridas na pele dos alunos; e reforço na disseminação correta de informações a respeito da doença. “É um grande desafio essa comunicação, especialmente hoje em dia que estamos diante de um público específico (no momento, a maior parte dos infectados é de homens que fizeram sexo com homens). Porém, vai atingir mulheres, crianças e todos precisam saber sobre isso”, afirma o infectologista David Uip, secretário estadual de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento.

Para o também infectologista Francisco Ivanildo de Oliveira Jr, gerente médico do Hospital Infantil Sabará, o aumento do número de casos preocupa. “Provavelmente o que estamos vendo agora é apenas a ponta do iceberg. Todo mundo é vulnerável, não é uma doença de homens gays, ou bissexuais”, afirma. Prevendo que pode começar a receber casos de varíola de macacos em crianças e adolescentes, a unidade já criou um protocolo específico. Ele começa logo na porta do hospital, onde um técnico de enfermagem já consegue identificar quais são aqueles que apresentaram sintomas de quadros infecciosos e doenças que podem ser transmissíveis ou não. Se for o caso, eles são encaminhados para um local diferente dos demais. Por ser uma doença que não tem precisado de muitas internações, as instituições só reservarão os leitos se a demanda assim o exigir.

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O foco por agora está na recepção de casos suspeitos e fazer com que eles não permaneçam muito tempo próximos dos demais pacientes, cuidado que vem sendo tomado em unidades como o Vila Nova Star, da Rede D’Or, e o Sírio-Libanês.

Segundo a médica Maria Luísa do Nascimento Moura, coordenadora do Serviço de Controle de Infecção do Vila Nova Star, as pessoas com suspeita da doença são atendidas em boxes individuais, e a instituição também reforçou junto aos profissionais a necessidade de uso de mais equipamentos individuais de proteção, como máscara N-95, óculos de proteção e aventais descartáveis, paramento semelhante ao usado no início da pandemia do novo coronavírus. “É uma doença que pode avançar mais e trazer pressão ao pronto atendimento.”

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(Arte/Veja SP)
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No Sírio-Libanês, o médico Felipe Duarte, gerente de Pacientes Internados e Práticas Médicas, afirma que toda a equipe do pronto-socorro recebeu orientações de manejo de casos suspeitos de varíola dos macacos. “É fundamental um alinhamento interno para que consiga fazer o reconhecimento da condição e diagnóstico”, diz.

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A situação impacta também a demanda por exames. Segundo o médico Celso Granato, diretor clínico do Grupo Fleury, a procura por diagnóstico vem dobrando toda semana, e a taxa de positividade da doença já chegou a 47%.

Na rede pública de saúde, a reportagem apurou que o Instituto de Infectologia Emílio Ribas vem atendendo a média de quarenta casos suspeitos por dia e já dispõe de três salas de isolamento. Na rede municipal, está sendo dada atenção especial aos 470 postos de saúde, principal porta de entrada dos pacientes. Segundo Luiz Carlos Zamarco, secretário municipal de Saúde, as unidades estão equipadas para coletas de material para exame a ser realizado no Instituto Adolfo Lutz. Em relação às escolas, se os professores e funcionários avistarem crianças com lesões na pele, devem chamar os pais ou responsáveis para que a criança seja levada até uma unidade de saúde. “Um professor não vai diferenciar se é herpes, varicela ou outra lesão. Por isso o encaminhamento”, disse o secretário. Ele afirmou não haver motivo, por enquanto, para emitir orientações específicas sobre riscos no uso de transportes públicos.

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Procuradas, as principais escolas particulares não informaram se já adotaram ou não cuidados específicos para lidar com a varíola dos macacos. Já Benjamin Ribeiro da Silva, presidente do sindicato que as representa, afirmou à reportagem estar preocupado. “Estamos vigilantes”, diz.

Estigmatizar é erro

Integrante do grupo que no ano de 1982 diagnosticou o primeiro caso de aids no Brasil, o infectologista David Uip afirma que não se pode cometer o mesmo erro do passado ao estigmatizar a maior parte dos pacientes que têm sido acometidos pela varíola dos macacos, homens que fazem sexo com homens. “Aquilo (estigmatizar a aids logo no início) foi um desastre, atrapalhou e atrapalha a gente até hoje. Não podemos cometer o equívoco da década de 80”, diz o médico, também secretário de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde do estado.

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O médico Davi Uip ajudou a diagnosticar o primeiro caso de aids no Brasil
O médico Davi Uip ajudou a diagnosticar o primeiro caso de aids no Brasil (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Para Uip, como já existe a circulação comunitária da doença na cidade de São Paulo, é totalmente esperado que ela evolua para outros grupos e até faixas etárias. “Eu tenho absoluta certeza de que essa é uma doença que vai atingir a toda a população”, disse. Um dos mais renomados infectologistas do país, Uip afirma que é contrário inclusive ao nome da doença, diagnosticada pela primeira vez em macacos por um laboratório dinamarquês, em 1958. Segundo ele, isso pode promover até episódios como o de 2017, quando a Sociedade Brasileira de Primatologia alertou que macacos estavam sendo mortos simplesmente pelo medo que as pessoas sentiam de ser contaminadas pela febre amarela. “Temos de achar um nome melhor, já que está sendo transmitida de pessoa para pessoa”, diz.

Ainda segundo o médico, apesar de neste momento a doença não ter letalidade expressiva, há grande preocupação com os grupos de risco, pacientes em tratamento contra o câncer, transplantados e gestantes. “É uma doença que está só começando”, afirma.

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Publicado em VEJA São Paulo de 5 de agosto de 2022, edição nº 2801

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