Quarentena aumentou número de acidentes domésticos com crianças
Com famílias passando mais tempo no lar, a proporção de quedas em casa representa mais de 70% dos atendimentos de trauma no Sabará Hospital Infantil
Bianca tinha 3 meses de vida quando sofreu um acidente. Na hora da amamentação, quando a mãe foi mudá-la de posição, a bebê acabou caindo e batendo a cabeça. “Foi de uma altura pequena e tudo aconteceu em uma fração de segundo”, recorda Tatiana Medici, cardiologista infantil e mãe de Bianca.
Apesar do choro e do susto, Bianca não desmaiou nem pareceu ter sofrido nenhuma consequência mais grave. Mesmo assim, prevaleceu a precaução. Tatiana levou a filha ao hospital e, após os exames, soube que a pequena teve uma fratura no crânio que, felizmente, não deixaria sequelas. “Em uma hora e meia eu já tinha feito tudo, fui atendida, ela fez tomografia e estávamos aguardando o resultado”, conta.
O caso de Bianca não é único. No Sabará Hospital Infantil, em São Paulo, onde foi atendida, quase metade dos casos de traumatismos que chegam à emergência ocorre em casa. Durante a pandemia, com pais e crianças passando mais tempo no lar, a proporção de acidentes domésticos, inclusive, aumentou, chegando a 70%. O destaque fica por conta das quedas: seja do colo de alguém, como no caso de Bianca, ou, com crianças um pouco mais velhas, que se machucam após pular em sofás ou camas.
A idade das quedas
De acordo com Wilson Lino Jr., chefe do Departamento de Ortopedia do Sabará Hospital Infantil, que realizou um levantamento dos acidentes, o mais comum é que eles ocorram na faixa entre os 3 e 4 anos. “A partir dessa idade, a criança já começa a ter mais independência, vontades, e vai pular mesmo com os pais avisando do perigo porque ela acha divertido”, explica. “Passada essa fase, ela já começa a compreender muito melhor os riscos. Não deixa de brincar, mas calcula melhor seus impulsos, tem mais coordenação e já traz consigo o aprendizado adquirido com outras quedas.”
Apesar de ser normal levar um tombo ou outro, é preciso ficar atento a quaisquer sinais diferentes que a criança venha a apresentar após a queda. Como reforça o médico, se uma criança bateu a cabeça e desmaiou ou vomitou, é importante levá-la a um pronto-socorro para observação. Cortes que não param de sangrar também exigem atenção – o ideal, nesses casos, é não passar nenhum produto, protegendo com um pano limpo até chegar ao hospital.
Para Tatiana, o excesso de preocupação fez diferença. “Quando é a nossa filha, vem um sentimento de culpa, de desespero muito grande. O hospital foi um refúgio, porque não é apenas composto por um médico ou enfermeiros. Tem o manobrista, a secretária que nos recebe, todo mundo preocupado com o ser humano, todo mundo disposto a ajudar. E poder voltar para casa sabendo que não preciso me preocupar, que está tudo bem, não tem preço”, conclui.
Esse tema será abordado no Congresso Internacional Sabará de Saúde Infantil, que, em sua quinta edição, será transmitido de forma online entre os dias 19 e 21 de novembro para médicos, estudantes e profissionais que atuam ou têm interesse em áreas da saúde infantojuvenil. O evento, que já é um marco no calendário do setor no país, é uma iniciativa da Fundação José Luiz Egydio Setúbal (FJLES), mantenedora do Sabará Hospital Infantil, e do Instituto Pensi – Pesquisa e Ensino em Saúde Infantil.