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Empresário que matou servidora federal em 2003 ainda não foi julgado

Após três adiamentos, é remarcado para março o júri de Raphael Wright, que atropelou a servidora federal Ângela Maria Molino na Avenida Paulista há treze anos

Por Sérgio Quintella
Atualizado em 1 jun 2017, 15h41 - Publicado em 16 dez 2016, 23h00
Ana Paula Molino acidente carro avenida paulista
Ana Paula Molino acidente carro avenida paulista (Leo Martins/)
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Na tarde de 22 de novembro, cerca de vinte pessoas se reuniam num dos corredores do fórum criminal da Barra Funda. De um lado estavam os familiares da servidora federal Ângela Maria Molino, atropelada em 2003 na Avenida Paulista. Ela tinha 59 anos e morreu na hora. Do outro, o empresário Raphael Wright, 33, que dirigia o carro no momento do acidente. Todos aguardavam o julgamento do caso, que seria naquela data. Após breve reunião dos advogados, porém, a sessão passou para 23 de março de 2017. Foi o terceiro adiamento.

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Apesar de o motorista ter sido pego em flagrante — ficou dois dias detido — e admitido a ingestão de bebida alcoólica antes do acidente, ele nunca foi julgado. Para especialistas no tema, o caso virou um símbolo da impunidade dos crimes ao volante na capital. “Raramente alguém acaba preso”, lamenta Mauricio Januzzi, presidente da Comissão de Direito Viário da Ordem dos Advogados do Brasil.

Na época, Wright era estudante de direito e tinha 20 anos. Voltava de uma festa na madrugada de 15 de outubro de 2003 quando, ao passar o sinal vermelho (ele disse, posteriormente, que estava amarelo, mas a afirmação foi contestada por testemunhas) com seu veículo, um jipe Troller, atingiu Ângela. Ela atravessava a avenida na faixa de pedestres para pegar seu carro do outro lado. A servidora havia trabalhado até aquele horário (por volta das 4) para preparar provas de um concurso público que ocorreria dentro de alguns dias.

Ângela Maria Molino, atropelada em 2003 na Avenida Paulista.
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Ângela Maria Molino, atropelada em 2003 na Avenida Paulista.

Em depoimento no 78° DP, nos Jardins, Wright alegou que a vítima apareceu repentinamente. Por isso, não teria havido tempo de frear. “Nunca nos procuraram nem para pedir desculpas”, diz Ana Paula Molino, filha de Ângela. Na ação cível, Wright foi condenado em setembro de 2016 a pagar cerca de 160 000 reais a Ana Paula e sua irmã. A família encontra dificuldade para receber o dinheiro. Ele só tem um bem em seu nome: a participação como sócio da Machine Solutions, uma companhia de equipamentos industriais em Pinheiros. “Vamos tentar penhorar as contas dessa empresa”, afirma Homar Cais, advogado das filhas da vítima.

Na esfera criminal, Wright é acusado de homicídio com dolo eventual (quando o motorista assume o risco de matar ao consumir álcool e andar em alta velocidade por via pública). À polícia, ele alegou ter bebido apenas duas latas de cerveja (embora tenha se recusado a fazer o teste do bafômetro) e estar a 80 quilômetros por hora, versão contestada por testemunhas.

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Elas afirmaram ter visto o carro a, pelo menos, 120 quilômetros por hora. Em março de 2017, caso a história tenha um ponto final, Wright deve ir a júri popular. Se condenado, poderá pegar de seis a vinte anos de cadeia. “Quanto mais o processo se arrasta, maior é a sensação de injustiça”, diz Átila Machado, advogado da família Molino.

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Em 1997, a criação do Código de Trânsito Brasileiro tentou pôr fim à impunidade, estabelecendo prisão de dois a quatro anos por crimes ao volante. Na prática, porém, um réu primário e com residência fixa pode cumprir a pena em regime aberto ou fazer o pagamento de cestas básicas. Depois, houve duas mudanças na lei, aumentando as penalidades quando se confirma a ingestão de álcool. A detenção só ocorre, no entanto, em condenações acima de sete anos.

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“Isso só será resolvido quando o Supremo Tribunal Federal decidir que embriaguez ao volante, seguida de acidente com morte, é crime doloso”, acredita a advogada Roselle Soglio. Um dos casos em que ela atua no momento é o da mãe e do filho que morreram atropelados por um empresário em Bertioga, no Litoral Norte, em 2007. Para as famílias que perderam parentes em desastres, não há muito motivo para otimismo. “Deixei de acreditar na Justiça”, afirma Ana Paula Molino.

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Desastres nos tribunais

Casos de grande repercussão cujos autores ainda não foram julgados


Acidente Felipe Arenzon
Acidente Felipe Arenzon ()

Sumaré e Bairro do Limão

Depois de sair de uma casa noturna, em setembro de 2011, o então estudante Felipe Arenzon, de 19 anos, provocou uma série de acidentes entre os dois bairros com seu Camaro vermelho, matando Edson Roberto Domingues, 55, e deixando outros três feridos. Nunca foi a julgamento. Candidatou-se em 2016 a vereador de Embu, com o codinome Felipe do Rancho. Recebeu mais de 2 000 votos, mas não se elegeu.

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Rua Natingui, Vila Madalena

O administrador Vitor Gurman, 24, morreu no hospital poucos dias depois de ter sido atropelado pela nutricionista Gabriella Guerrero, em 23 de julho de 2011. Ela e o  namorado, que estava ao seu lado no carro, foram condenados a pagar indenização na esfera cível, mas até hoje não houve julgamento no âmbito criminal.

Shopping Villa-Lobos

Em setembro de 2011, a dona de casa Miriam Baltresca, 58, e sua filha, a advogada Bruna Baltresca, 28, foram atingidas por um carro desgovernado, dirigido pelo bibliotecário Marcos Alexandre Martins, na calçada da Marginal Pinheiros, em frente ao centro de compras.

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