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Uma viagem no tempo às décadas passadas por meio de suas histórias, costumes e curiosidades.
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A despedida do jornalista Wanderley Sanches (1954-2022)

Um gigante da edição, o ex-editor executivo da Vejinha tinha uma erudição formidável e adorava compartilhar conhecimento

Por Arnaldo Lorençato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 2 dez 2022, 10h56 - Publicado em 2 dez 2022, 06h00
Wanderley Sanches
Fã das artes: paixão especial pela literatura, pelo cinema e pelo teatro (Acervo de Família/Divulgação)
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Sempre com a cor da discrição, Wanderley Lopez Sanches foi um dos mais importantes jornalistas da sua geração. Embora tenha trabalhado em títulos como a extinta revista Visão, onde foi revisor, ele edificou sua carreira nas mais de duas décadas que passou na editora Abril, sempre em VEJa SÃO PAULO.

Ingressou na empresa em setembro de 1990 como repórter e chegou ao cargo de editor executivo em 2008. Saiu, por vontade própria, em abril de 2011 para uma planejada aposentadoria. Queria aproveitar ao máximo o tempo livre para ir a shows, assistir a peças de teatro, dedicar-se à leitura de clássicos e autores consagrados e modernos, sair em viagem. Foi o que fez nos últimos onze anos, até sua morte, aos 68 anos, na noite do dia 21 de novembro em decorrência de uma metástase óssea.

Wanderley, Wander ou Deley, como era chamado pelos amigos mais íntimos, era dono de uma erudição formidável sem nunca ser arrogante. adorava partilhar conhecimento e teria sido um ótimo professor, coisa que ele abominava. Dominava a timidez não o suficiente para encarar uma sala de aula. A timidez, porém, não o impedia de fazer amigos por toda parte.

Era uma pessoa cativante, um semeador de amizades. Tinha também um lado divertidamente ranzinza e abominava o erro. Com olhos de lince, editava textos de maneira impecável. E vibrava com as conquistas dos amigos. Uma das últimas mensagens que recebi dele era sobre a mais nova edição do guia anual COMER & BEBER, que por anos ele editou com brilho. “Parabéns pela edição. Gostei muito. Trabalho difícil”, escreveu.

Na sua lista de leituras e releituras, predominavam clássicos como o alemão Thomas Mann, russos, entre eles Dostoiévski, e os nacionais Machado de Assis e Graciliano Ramos. Não se descuidava também de novos autores. Numa das visitas que fiz a ele, já convalescente depois do ápice da pandemia, me presenteou com seu exemplar de O Avesso da Pele, do carioca Jeferson Tenório, ganhador do prêmio Jabuti, que ele acabara de ler e recomendava fortemente.

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O leitor voraz frequentava com assiduidade as filas de cinemas na região da Paulista. Também não perdia espetáculos de teatro e era muito querido pela turma da classe artística. Apaixonado por música, transitava do samba às sinfonias com a mesma versatilidade e falava de Zeca Pagodinho e de Beethoven com propriedade. Adorava Caetano, Bethânia, Gal e, mais recentemente, Silva.

Desfez ao longo dos anos do portentoso acervo de vinis, que deu lugar a uma coleção de mais de 3 000 CDs meticulosamente organizados. “Acordava e já botava algo pra tocar”, conta o companheiro Mário Viana, dramaturgo, novelista, escritor e também jornalista, com quem foi casado por 42 anos. A união longeva se iniciou nos tempos da faculdade, quando se cruzaram nos corredores da Cásper Líbero.

Juntos, empreenderam a primeira aventura ao se mudarem para a Europa entre 1981 e 1982, antes do fim do regime militar. Moraram primeiro em Portugal, nas cidades de Porto e Lisboa, seguindo depois para a França, onde tiveram como base Bordeaux e Paris. “Wander era acima de tudo solidário, ajudava compulsivamente”, descreve Mário. O filho de imigrantes espanhóis, primeiro da família a ter um diploma universitário, dava suporte constante aos familiares e amigos. Os olhos azuis de Wanderley Sanches se fecharam aqui na terra. Certamente, estão brilhando em outro lugar.

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Publicado em VEJA São Paulo de 7 de dezembro de 2022, edição nº 2818

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